143: O Declínio de Katy Perry

por Rafael Bomfim

O novo álbum de Katy Perry, 143, lançado na última sexta-feira, marca um momento decisivo — e preocupante — em sua carreira, um dia antes de seu aguardado show no Rock in Rio para mais de 100 mil pessoas. O álbum prometia ao público uma “volta sexy e provocativa” aos dias de glória da cantora, apenas evidenciou um esgotamento criativo por completo de Perry.

143 O Declínio de Katy Perry
Crédito: Reprodução/Youtube

O álbum abre com “Woman’s World”, uma tentativa de hino de empoderamento feminino que é, sem dúvida, um dos piores singles de retorno da carreira de Perry. Co-escrito com o polêmico produtor Dr. Luke, que esteve no centro das acusações de abuso feitas por Kesha, a escolha já seria controversa, mas a música em si não ajuda. Com letras genéricas e datadas como “ela é uma flor, ela é um espinho, super-humana, número um”, a faixa falha em capturar qualquer emoção genuína e estabelece um tom fraco para o restante do álbum.

No entanto, nem tudo é um desastre completo. O álbum melhora ligeiramente, com faixas como “Lifetimes”, um house-pop divertido, e “Crush”, que revive a batida clássica do Eurodance – mas não se engane fácil: esses são os únicos pontos fortes do álbum. Essas músicas são exemplos da habilidade de Perry em criar refrões pegajosos, que já a  levaram ao topo das paradas nos anos 2010. 

Infelizmente, boa parte do álbum parece uma tentativa desesperada de recriar o sucesso de sua era Teenage Dream, sem o frescor e a originalidade que definiam seus maiores hits. “Artificial”, por exemplo, é uma tentativa de criar uma nova versão de “E.T.”, enquanto “I’m His, He’s Mine”, em colaboração com Doechii, começa bem, mas logo se perde, desperdiça o potencial da jovem rapper, resultando em uma faixa esquecível.

Ao longo do álbum são apresentadas 11 músicas que não apresentam nenhuma conexão entre si, o álbum em si parece uma grande confusão, não há uma história sendo contada ou um conceito sendo apresentado, são apenas uma dezena de músicas sendo colocadas em um mesmo lugar sem nenhum critério. 

O encerramento com “Wonder”, que traz a participação vocal de sua filha de 4 anos, Daisy, soa como um gesto forçado de apelo emocional – mas se coloca como uma das faixas mais marcantes do álbum para quem aguentou firme e de fato conseguiu ouvi até o fim.

Mas não foram muitos os que aguentaram ouvir o álbum do começo ao fim, a prova disso é o desempenho do álbum em plataformas globais. No dia de estreia, 143 acumulou apenas 6,6 milhões de reproduções no Spotify global. Para efeitos de comparação, “Die With a Smile”, parceria de Lady Gaga com Bruno Mars, lidera o Spotify Global com mais de 11 milhões de reproduções diárias. 143 não conseguiu estrear em nenhum dos charts globais do Spotify, Apple Music, iTunes ou qualquer outra parada, mostrando que o público parece não estar disposto a abraçar os erros de Katy Perry. 

Desde Witness (2017), seu último respiro nos charts globais, a cantora tem enfrentado um declínio cada vez maior. Smile (2020), lançado durante a pandemia, foi ignorado por grande parte do público, e agora 143 marca o desaparecimento por completo da cantora dos charts. A era em que Perry facilmente emplacou números 1 consecutivos nos charts parece agora um passado distante.Se Perry ou seus mais fiéis fãs, conhecidos como Katycats,  esperavam que 143 fosse o álbum que traria sua carreira de volta aos trilhos, ele apenas evidenciou de vez o declínio criativo que a cantora sofre desde do seu 4° álbum de estudo Witness – sem conseguir produzir algo que de fato seja interessante para o público geral. 143 é um álbum, repleto de faixas fracas com letras genéricas e uma produção sem rumo, o álbum mais parece um playlist de aleatoriedade  do que um álbum, a única função assumida por 143 parece ser de ser de deixar Perry ainda mais apaga do cenário pop atual.

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Rafael Bomfim
Rafael Bomfim é um comunicador, com formação técnica em Administração e Recursos Humanos.