Análise de ‘Caju’, revolução musical de Liniker com autenticidade e maturidade

por João Paulo Silva

Saudades dos álbuns com mais de dez faixas? E das músicas com mais de quatro minutos?

Liniker - Crédito: Caroline Lima

O novo álbum da cantora Liniker, “Caju”, vai na contramão do mercado atual, que tem priorizado EPs mais curtos. Com catorze faixas, o disco segue uma tendência ainda presente nos Estados Unidos, onde álbuns mais longos continuam em alta. Logo no início, Liniker nos presenteia com três músicas de mais de sete minutos: “Veludo Marrom”, “Ao Te Lado” e “Me Ajude a Salvar Os Domingos”.

Em um mundo cada vez mais fragmentado, onde a atenção é disputada a cada segundo, a música pode ser um refúgio. E para aqueles que buscam uma experiência musical mais profunda e imersiva, “Caju” é perfeito. Com suas faixas longas e envolventes, o álbum nos convida a nos desconectar do mundo e nos conectar com a música de uma forma mais intensa.

O segundo álbum de estúdio de Liniker, lançado em 19 de agosto de 2024, além de contar com composições originais, também conta com colaborações de peso, como Amaro Freitas, Anavitória, BaianaSystem, Melly, Priscila Senna, Lulu Santos, Pabllo Vittar e Tropkillaz. O primeiro single, “Tudo”, foi lançado em 11 de julho de 2024.

Assim como a pseudofruta caju, que traz a doçura única em sua polpa e a intensidade na castanha, o álbum “Caju” mistura o sabor do blues com o frescor do pop brasileiro, além de outros ritmos. A produção é como a colheita perfeita, que amadurece no ponto certo, garantindo um sucesso imediato. Em apenas 24 horas, suas 14 faixas frutificaram nas paradas musicais, com 13 delas ocupando lugares entre as 100 mais tocadas no Spotify Brasil, espalhando seu sabor por diversas plataformas.

Além de ser um sucesso comercial, o álbum explora um lado mais pessoal da artista. Liniker foi imortalizada na Academia Brasileira de Cultura em 2023, e, segundo a própria, o nome “Caju” representa um alter ego, inspirado por um comentário sobre o formato de sua boca. Através desse personagem, ela conta histórias íntimas com mais liberdade, além de refletir sobre o seu “eu interior”.

A faixa-título, que abre o álbum, é uma obra poética que reflete sobre como amar e ser amado(a). A mensagem central é clara: não devemos aceitar menos do que merecemos. A letra é uma reflexão sobre o amor-próprio e os desafios de colocá-lo em prática.

As três faixas mais longas — “Veludo Marrom”, “Ao Te Lado” e “Me Ajude a Salvar Os Domingos” — se destacam pela metalinguagem. Em “Veludo Marrom”, Liniker deixa claro: “Nem ligo, a gente pode demorar.”, o que funciona como um comentário sobre a própria duração da faixa, que é mais longa do que a média. A instrumentalidade dessas músicas é impecável.

Por outro lado, faixas mais curtas como “Tudo” (3:35), “Mayonga” (2:13) e “Papo de Edredom” (3:13) são autênticas e trazem orgulho da música brasileira. “Mayonga” se destaca como um sambinha alegre e envolvente, que lembra as obras de Jorge Ben, com um charme e força irresistível.

Do início ao fim, “Caju” é um álbum espetacular. Liniker mostra maturidade musical e emocional em cada faixa, e é impossível não se envolver com a profundidade e beleza do trabalho. Em entrevista ao “O Globo”, Liniker celebrou o sucesso: “Estou muito realizada, é a primeira vez que alcanço o Top 1.”. O sucesso é mais que merecido, porque “Caju” é uma obra que transcende que contrasta com o mercado atual, entregando música de qualidade em todos os aspectos.

Com ‘Caju’, nos sentimos mais brasileiros do que nunca. A língua portuguesa ganha novos contornos e sonoridades com esse álbum, fortalecendo nossos laços com a nossa cultura.

O álbum está disponível nas plataformas digitais de streaming de músicas, incluindo em formato visual no YouTube.

Ouça “Caju”:

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João Paulo Silva
João Paulo Silva, nascido em Barueri/SP e bacharel em Letras pela Universidade Estácio de Sá, é atualmente pós-graduando em Revisão de Texto pela PUC Minas.