O termo ecocídio tem ganhado cada vez mais relevância em debates ambientais e jurídicos ao redor do mundo. Conceitualmente, esta palavra se refere a ações humanas que causam danos graves, extensos e duradouros aos ecossistemas naturais, colocando em risco a vida na Terra. Embora ainda não tenha sido formalmente incluído no Estatuto de Roma, que rege o Tribunal Penal Internacional (TPI), muitos defendem sua tipificação como crime internacional, assim como o genocídio e os crimes de guerra. No Brasil, onde a biodiversidade é uma das maiores do mundo, o combate ao ecocídio se torna uma questão de sobrevivência ecológica, econômica e social.
Esta prática pode ocorrer de diferentes formas, como o desmatamento desenfreado, a contaminação de rios e mares por resíduos tóxicos, a mineração irresponsável e os incêndios florestais deliberados. Em nossas terras, a Amazônia e o Cerrado são exemplos de biomas frequentemente devastados por práticas ecocidas, em especial para a expansão da agropecuária e atividades minerárias não regulamentadas. Esses danos afetam não apenas o equilíbrio dos ecossistemas, mas também as populações locais, incluindo comunidades indígenas e ribeirinhas que dependem diretamente da natureza para sobreviver.
Seu impacto é sentido em várias frentes. Em termos climáticos, a destruição de florestas reduz a capacidade de absorção de carbono e intensifica o efeito estufa, contribuindo para o aquecimento global. Além disso, o colapso dos ecossistemas prejudica a biodiversidade, aumentando o risco de extinção de espécies e a proliferação de doenças. Variados estudos indicam que a degradação ambiental também eleva a ocorrência de pandemias, ao deslocar vírus e patógenos para áreas habitadas por seres humanos. Portanto, o ecocídio não é apenas uma questão ecológica, mas de saúde pública também.
No contexto jurídico, sua tipificação é vista como uma resposta necessária para responsabilizar indivíduos e empresas por danos ao meio ambiente em larga escala. O conceito propõe a responsabilização não apenas de Estados, mas também de empresas e gerentes que, por negligência ou dolo, causam impactos severos à natureza. No Brasil, tais ações encontram barreiras no atual arcabouço legal, que muitas vezes é incapaz de punir de maneira proporcional os responsáveis por grandes acidentes ambientais, como foi o caso de Mariana e Brumadinho.
A ausência de uma legislação clara que tipifique esta ação como crime facilita a impunidade e perpetua um ciclo de exploração ambiental predatória. Grandes corporações e seus agentes que promovem ações danosas ao meio ambiente costumam recorrer a brechas legais e a processos demorados para evitar sanções. Esse cenário incentiva a continuidade de práticas destrutivas e afeta negativamente nossa imagem no cenário internacional, uma vez que a comunidade global está cada vez mais exigente em relação à sustentabilidade.
Sua inclusão como crime internacional também seria uma ferramenta poderosa para preservar a nossa soberania. Sofremos pressão de outros países devido ao desmatamento amazônico. Caso o ecocídio fosse reconhecido globalmente, poderíamos usar esse marco jurídico para coibir práticas ilegais, combater a extração predatória de recursos naturais e fortalecer nossa posição em negociações internacionais sobre clima e meio ambiente. Além disso, tal reconhecimento estimularia investimentos em tecnologias limpas e na economia verde, promovendo práticas que busquem o desenvolvimento sustentável.
A exploração ilegal de madeira e o garimpo são exemplos concretos destas práticas que devastam os biomas brasileiros. O garimpo, em particular, tem sido responsável pela contaminação de rios com mercúrio, afetando comunidades ribeirinhas e indígenas. Já o desmatamento para extração de madeira não apenas degrada o solo e afeta a biodiversidade, mas também aumenta o risco de queimadas. Essas atividades são frequentemente alimentadas por redes criminosas, cuja repressão se mostra insuficiente sem uma legislação específica para enquadrar suas ações.
O reconhecimento do ecocídio como crime pode ser um divisor de águas para o futuro da proteção ambiental no Brasil e no mundo. A sua criminalização não resolveria todos os nossos problemas, mas criaria uma barreira importante contra práticas predatórias e sinalizaria o compromisso do país com um modelo de desenvolvimento ambientalmente justo. Além disso, enviaria uma mensagem clara para o exterior de que nossa nação está disposta a enfrentar este grave problema com seriedade.