Em 2022, o universo de Batman foi revivido pelo diretor Matt Reeves com o lançamento de “The Batman”, um filme que se afastou das tradicionais aventuras do herói para explorar um lado mais sombrio e psicológico de Gotham. Agora, a série “The Penguin”, no brasil traduzida como Pinguim, produzida pela HBO, expande ainda mais esse universo, tomando a cidade corrompida e brutal como palco para uma história densa e recheada de personagens complexos.
A série se passa logo após os eventos do filme de Reeves e coloca Oswald Cobblepot, personagem principal, o famoso Pinguim, no centro da narrativa. Mas, ao contrário do que muitos podem imaginar, “Pinguim” não é uma simples história de origem de um vilão. A série explora de forma incisiva a ascensão de Cobblepot, ou Oz, como ele é conhecido, enquanto ele tenta tomar o controle do submundo de Gotham após a morte de seu chefe, Carmine Falcone.
A trama de Pinguim e a busca implacável por poder
Ao longo de oito episódios, “Pinguim” vai além da figura tradicional do vilão em busca de vingança. A série oferece uma visão mais profunda do que leva uma pessoa, especialmente alguém como Oswald Cobblepot, a se tornar um criminoso implacável. Ao ter sua chance de tomar o comando do submundo de Gotham, Oz percebe que o vazio deixado pela morte de Carmine Falcone é a oportunidade perfeita para crescer e expandir seu império. No entanto, essa ascensão é longe de ser fácil ou sem obstáculos. Ao tentar consolidar seu poder, Oz enfrenta a resistência de várias facções criminosas, além de ter que lidar com figuras que antes pertenciam ao seu círculo íntimo.
A narrativa de Lauren LeFranc, criadora da série, explora a trajetória de Oz enquanto ele começa a manipular as situações ao seu redor para garantir sua supremacia. Sua habilidade de manipulação, alianças volúveis e astúcia estratégica são elementos fundamentais na história, mas o mais fascinante é ver como Oz lida com suas próprias falhas e vulnerabilidades. Sua busca pelo status e poder se mistura com uma necessidade de pertencimento e controle, alimentada por um passado de abusos e rejeição.
Oz e Victor: uma relação improvável de pai e filho
A série também introduz Victor Aguilar, um adolescente deslocado que acaba cruzando o caminho de Oz em meio ao caos que toma Gotham. Victor é um dos muitos órfãos de Gotham, afetado pelas recentes enchentes e pela destruição de bairros inteiros pela violência promovida pelo Charada. No entanto, em vez de tratá-lo como uma vítima, Oz decide tomar Victor sob sua proteção, e é aqui que a série começa a explorar um dos elementos mais humanos da história.
Victor, embora inicialmente um personagem tímido e inseguro, acaba se tornando uma espécie de “filho” para Oz. A relação deles não é baseada apenas na exploração, mas também em um profundo desejo de Oz de estabelecer uma conexão genuína com alguém, algo que ele nunca teve devido ao seu passado traumático. Essa dinâmica pai-filho é uma das mais emocionantes da série, oferecendo momentos de vulnerabilidade e ternura, que contrastam com os atos brutais cometidos por Oz.
A atuação de Rhenzy Feliz, no papel de Victor, é particularmente notável, pois ele traz uma humanidade essencial para o personagem, criando uma conexão com o público. O relacionamento com Oz mostra que, apesar de todo o mal que ele representa, existe um desejo profundo de pertencimento e afeto, um anseio por uma paternidade que foi negada.
A presença de Sofia Falcone: uma antagonista complexa e calculista
Embora a história de Oz seja central para a trama, a série também dá uma atenção considerável a Sofia Falcone, interpretada por Cristin Milioti. Sofia é a filha do falecido Carmine Falcone, um dos maiores chefões do crime de Gotham, e retorna à cidade após ser libertada do hospital psiquiátrico Arkham, logo após o assassinato de seu pai. Sua presença complica ainda mais as ambições de Oz, pois ela também busca tomar as rédeas do poder que antes era dos Falcones.
Sofia é uma personagem com múltiplas camadas. Embora tenha sido criada em um ambiente de luxo e privilégios, seu retorno à cidade revela a profundidade da raiva e angústia que ela carrega. Sua relação com Oz é marcada por um jogo psicológico de alianças e traições, onde ambos tentam manipular a situação a seu favor. Enquanto Oz é o produto de um mundo cruel e implacável, Sofia, por outro lado, foi moldada pela sua linhagem e pelas expectativas de sua família. Ambos são produtos da sociedade que os cercam, e isso torna sua dinâmica ainda mais interessante.
Cristin Milioti traz uma performance impressionante para o papel, mostrando uma Sofia que é calculista, mas também vulnerável. Sua busca por poder é igualmente implacável, mas é impulsionada por um desejo de reafirmação e controle que é enraizado na perda de sua família e da posição que ela uma vez teve. A justaposição entre Sofia e Oz, com suas infâncias contrastantes e suas maneiras diferentes de lidar com o trauma e a perda, é um dos aspectos mais intrigantes da série.
Gotham como personagem: uma cidade em decadência
Não é apenas a luta entre Oz e Sofia que define o tom da série, mas também a maneira como a cidade de Gotham é retratada. A cidade, tão intimamente associada ao universo do Batman, aqui se torna um personagem por si só. Gotham é uma metrópole corrompida, onde as desigualdades sociais e econômicas criam um ambiente perfeito para a vilania florescer. A série ilustra como a corrupção, o abuso de poder e a busca insaciável por riqueza e influência podem se manifestar em todos os níveis da sociedade, desde a política até o submundo do crime.
Pinguim destaca as tensões entre as diferentes classes sociais, mostrando como as elites e os marginalizados coexistem em uma cidade em decadência. Gotham é um lugar onde as instituições falham em proteger os cidadãos, e onde a violência e o desespero são a única resposta para quem busca sobreviver. A série dá uma visão íntima de como os sistemas falham, criando uma sociedade onde a brutalidade é a norma e o poder é a única moeda de troca.
O trabalho de Colin Farrell e a maquiagem impecável
Embora a série traga várias figuras complexas e interessantes, não há dúvida de que Colin Farrell é a grande estrela. Sua performance como Oz Cobblepot é completamente transformadora, tanto física quanto emocionalmente. A maquiagem que o transforma no grotesco e lamentável Pinguim é um trabalho impressionante do maquiador Michael Marino, que consegue fazer Farrell parecer irreconhecível. Essa transformação é mais do que uma simples mudança estética; ela representa a internalização de todos os abusos e traumas que Oz sofreu ao longo de sua vida.
Farrell não apenas se entrega fisicamente ao papel, mas também oferece uma interpretação que revela a mente complexa de Oz. Ele retrata um homem que é ao mesmo tempo carismático e assustador, manipulador e vulnerável. A interpretação de Farrell traz uma profundidade emocional ao personagem, tornando Oz uma figura trágica e perigosa, mas ao mesmo tempo, compreensível.