A busca por humanização da Mãe de Jesus no filme ‘Virgem Maria’, da Netflix

A busca por humanização da Mãe de Jesus no filme ‘Virgem Maria’, da Netflix

Dirigido por D.J. Caruso (“Eu Sou o Número Quatro”), com roteiro de Timothy Michael Hayes, o filme “Virgem Maria” (“Mary”) apresenta uma abordagem diferenciada e provocativa sobre a figura de Maria, mãe de Jesus. Baseado no proto-Evangelho de Tiago, um texto apócrifo, a narrativa oferece uma perspectiva humanizada da personagem, explorando sua trajetória desde o nascimento até a apresentação de Jesus no templo.

A obra inicia com uma frase impactante: “Eu fui escolhida para trazer um presente ao mundo. O maior presente já visto. Deve pensar que me conhece. Mas, acredite, está enganado.” Esse prelúdio estabelece o tom de um filme que busca desconstruir imagens idealizadas, apresentando um retrato íntimo e realista da mãe de Jesus.

A atriz israelense Noa Cohen, cuja origem geográfica é próxima ao local tradicionalmente associado ao nascimento de Maria, interpreta a protagonista de maneira sensível, equilibrando fragilidade e determinação diante dos desafios impostos pela concepção divina.

A direção de fotografia alterna entre luzes suaves, que evocam a transcendência divina, e sombras densas, que refletem os conflitos e as adversidades enfrentados por Maria e José. Essas escolhas estéticas contribuem para a atmosfera do filme, ainda que algumas cenas possam soar excessivamente simbólicas, como a vela que se acende sozinha e a inclusão de figuras sobrenaturais como o anjo Gabriel e Lúcifer.

O elenco também é composto por nomes de destaque, como Anthony Hopkins, que interpreta o rei Herodes com intensidade e sobriedade, destacando a ameaça que paira sobre o recém-nascido Jesus. O também ator israelense Ido Tako, no papel de José, apresenta uma atuação contida, mas eficaz, retratando um personagem resiliente e solidário em sua missão ao lado de Maria.

Embora tecnicamente bem-executado, “Virgem Maria” enfrenta críticas significativas devido à sua distância dos textos bíblicos tradicionais. Inspirado nos evangelhos apócrifos, como “O livro secreto de Tiago”, o filme aborda elementos não reconhecidos pelo Cânone do Novo Testamento. Essa escolha narrativa gerou controvérsia entre segmentos religiosos, que questionam a validade de uma abordagem baseada em textos não oficializados pela Igreja.

O desfecho do filme é marcado pela reflexiva e simbólica frase: “O amor lhe custará caro. Atravessará o seu coração. Mas, no final, o amor salvará o mundo.” Essa conclusão sintetiza a mensagem central do longa-metragem: o amor sacrificial como instrumento de redenção e salvação. De um modo geral, “Virgem Maria” é uma “licença poética” visualmente atraente e narrativamente audaciosa, que desafia convenções ao reinterpretar a história de uma das figuras mais veneradas do cristianismo, mas com um olhar puramente cinematográfico, romantizado e “modernizado”. Ou seja, cenas bonitas, trilha sonora impactante e fotografia apelativa. Nada mais.

Assista o trailer: