A urgência de coibir incêndios clandestinos

Nos meses de agosto e setembro de 2024, o Brasil tem testemunhado um preocupante aumento no número de incêndios clandestinos (o que não é diferente aqui na Região dos Inconfidentes). Esses, que são frequentemente iniciados de forma ilegal, agravam-se durante o período seco, criando um cenário devastador para o meio ambiente, a saúde e a economia. Em meio a essa crise, torna-se imprescindível que o poder público atue com firmeza para coibir essas práticas, garantindo a proteção dos ecossistemas e das comunidades afetadas.

A urgência de coibir incêndios clandestinos
Imagem ilustrativa

O período seco, característico de diversas regiões do Brasil com clima tropical de altitude e subtropical, é um catalisador para a propagação do fogo. A falta de chuvas, combinada com altas temperaturas (em alguns horários específicos e locais) e a presença de ventos fortes, cria condições ideais para que as brasas se espalhem rapidamente. No entanto, em muitos casos estes são iniciados de forma deliberada, seja por agricultores que buscam limpar áreas para cultivo, seja por indivíduos que desejam expandir ilegalmente suas propriedades ou ainda por pura negligência. Esse cenário evidencia a necessidade urgente de ações mais incisivas.

O impacto vai muito além da destruição da vegetação. A combustão libera grandes quantidades de dióxido de carbono e outras substâncias tóxicas na atmosfera, contribuindo para o agravamento das mudanças climáticas. Além disso, a fumaça resultante dos incêndios afeta diretamente a qualidade do ar, causando problemas respiratórios em milhares de pessoas, principalmente nas populações mais vulneráveis, como crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas (como o meu caso). 

A legislação brasileira já dispõe de mecanismos para punir aqueles que provocam esse tipo de crime. No entanto, a sua eficácia depende da capacidade de fiscalização e de aplicação das penalidades previstas. Em muitos locais, a fiscalização é insuficiente, seja por falta de recursos humanos, seja por questões logísticas. O resultado é uma sensação de impunidade que encoraja a continuidade dessas práticas criminosas. Os agentes governamentais devem, portanto, intensificar os esforços de fiscalização, investindo em tecnologia e capacitação para garantir que os responsáveis sejam devidamente punidos.

Além da fiscalização, é fundamental que os governos invistam em campanhas de conscientização. Muitos incêndios clandestinos são fruto da falta de informação sobre os riscos e as consequências dessas ações. Campanhas educativas, voltadas para agricultores, comunidades rurais e o público em geral, podem contribuir na redução do número de incêndios. Os usos de todos os meios disponíveis, desde programas de rádio e televisão até as redes sociais, são importantíssimos para disseminar informações sobre a importância de evitar queimadas durante o período seco.

A coordenação entre diferentes esferas públicas também é essencial. Municípios, Estados e a União devem trabalhar em conjunto para combater os focos em seu início. Isso inclui a criação de grupos de trabalho interinstitucionais, que possam responder rapidamente a estas queimadas e implementar medidas preventivas de forma eficiente. A troca de informações e a referida colaboração são cruciais para que as ações sejam mais eficazes e abrangentes.

No entanto, a solução para este problema não pode se limitar apenas à repressão. É necessário a construção de alternativas viáveis para aqueles que utilizam o fogo como ferramenta de manejo agrícola. Programas de incentivo ao uso de técnicas agrícolas sustentáveis, como a agroecologia e o manejo integrado de gados e pragas, podem reduzir a dependência das queimadas, promovendo mudanças reais de atitude.

Outro aspecto que merece atenção é a reabilitação das áreas afetadas pelos incêndios. Promover a sua recuperação, seja por meio do reflorestamento, seja pelo estímulo à regeneração natural são fundamentais! A restauração dos ecossistemas é crucial para a manutenção da biodiversidade e para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. 

Portanto, o cenário atual exige uma postura proativa e determinada de todos. A proteção de nossas matas e da saúde não pode ser negligenciada. O combate às queimadas é uma questão de justiça social, preservação ambiental e responsabilidade governamental. Somente com ações concretas e eficazes será possível enfrentar esse desafio e proteger as futuras gerações dos impactos devastadores da falta de responsabilidade de alguns.

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Pedro Luiz Teixeira de Camargo
edro Luiz Teixeira de Camargo (Peixe) é Biólogo e Geógrafo, Dr. em Ciências Naturais e Docente do IFMG.
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