Afinal, ‘desumilde’ existe? A história por trás da palavra

Afinal, ‘desumilde’ existe? A história por trás da palavra

Às vezes, estamos deitados na cama, prestes a dormir, quando surge, quase como uma voz do além, uma pergunta inesperada: Como se constrói um objeto? Como se prepara uma determinada comida? Será que existe vida em outro planeta? Qual foi a primeira telenovela produzida no Brasil? E, afinal, tal palavra existe mesmo?

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Quem nunca se pegou refletindo sobre a pronúncia de uma palavra e pensando: “Que estranho… será que estou falando errado?” Nessas horas, surge a dúvida: “Essa palavra existe mesmo?”

Por exemplo, a palavra “desumilde” existe mesmo em nossa língua? Ou seria apenas uma invenção popular que ganhou força no cotidiano?

A verdade é que, oficialmente, “desumilde” não está registrada nos principais dicionários da língua portuguesa. Se você procurá-la nos dicionários Aurélio, Michaelis, Silveira Bueno e até mesmo no dicionário da Academia Brasileira de Letras (ABL), você não a encontrará. No entanto, ela aparece em alguns dicionários virtuais como o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.

Mas não é porque uma palavra não está no dicionário que ela não existe. Essa ideia é falsa e só demonstra o quanto precisamos aprender sobre a natureza dinâmica da linguagem. A língua é um reflexo vivo da sociedade que a utiliza. Os dicionários, por sua vez, são ferramentas importantes, mas eles não criam a língua — apenas registram uma parte dela, geralmente com algum atraso em relação ao uso real.

Apesar do próprio dicionário da Academia Brasileira de Letras (ABL) não ter a palavra “desumilde” registrada, ela aparece como adjetivo no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp), sistema da ABL que faz o registro oficial das palavras da Língua Portuguesa.

A palavra também aparece no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, tendo como significado: que não é humilde, imodesto, vaidoso, presunçoso, orgulhoso, etc. O Houaiss também informa o ano de primeira registro da palavra, que aparece na obra “Agulha em Palheiro” do escritor português Camilo Castelo Branco, publicada em 1863: “—Acontece-me o mesmo em toda a parte, contrariou Fernando com certo desabrimento deshumilde.—Emquanto o pae estiver n’este modo de vida, hei de ser enxovalhado por todos os condiscipulos, tanto monta em Lisboa, como em Coimbra.”.

Sendo assim, “desumilde” existe há pelo menos 160 anos. Ela é formada por derivação prefixal, com a junção do prefixo “des-” ao adjetivo “humilde”. O prefixo “des-” indica negação ou oposição, atribuindo à palavra o sentido de “não ser humilde” ou “contrário de humilde”. Já o radical “humilde” vem do latim “humilis”, que significa “baixo, modesto, simples”.