Com uma semana de paralisação, trabalhadores da CSN cobram reajuste salarial em Congonhas

Publicado: Atualizado:

A paralisação dos trabalhadores da CSN completa uma semana na quarta-feira, 6 de abril. Os funcionários estão em busca de atendimento de algumas reivindicações para terem melhores condições de trabalho. Na terça-feira (5), representantes do Sindicato Metabase dos Inconfidentes foram até São Paulo para negociar com os gerentes da companhia, mas suas demandas não foram atendidas.

Com uma semana de paralisação, trabalhadores da CSN cobram reajuste salarial em Congonhas
Crédito: Sindicato Metabase dos Inconfidentes

Dentre as reivindicações, destacam-se:

  • Pagamento do Programa de Participação nos Lucros e Resultados (PLR);
  • Reajuste salarial que cubra as perdas salariais dos últimos dois anos;
  • Reajuste no cartão-alimentação de, no mínimo, o dobro do valor que é pago;
  • Plano de cargo de salários para que haja o pagamento de, no mínimo, um salário e meio para os funcionários.

De acordo com o presidente do Sindicato Metabase dos Inconfidentes, Rafael Duda, a pauta de reivindicações dos funcionários foi entregue para a CSN no dia 21 de março, para que começasse uma negociação com a empresa. Quatro dias depois, após uma reunião com a companhia, o representante do sindicato disse que a CSN não apresentou nenhuma resposta, argumento ou contrapartida para os trabalhadores.

“Para se ter ideia, sobre a nossa PLR, em que cobramos o nosso abono, a empresa manteve um silêncio total, não sabe de nada, não tem dinheiro para o trabalhador. A única informação que soltaram é que na próxima assembleia dos acionistas terá PLR e a remuneração dos dividendos dessa empresa. É dessa forma e com esse descaso que a empresa vem tratando seus trabalhadores e, mais uma vez, queremos negociar, mas não nos parece que a CSN quer. Não tem resposta para nada e veio aqui só para ‘inglês ver’, para ‘encher linguiça’. A CSN se nega a falar, a discutir ou negociar qualquer tipo de contrapartida sobre a nossa PLR. Até quando vamos aceitar isso?”, disse Duda.

Assim, iniciou-se um movimento amplo de unidade de trabalhadores de todos os setores da CSN a fim de lutar por suas reivindicações. Na quinta-feira, 31 de março, começou a paralisação dos funcionários que perdura até hoje. Após a Unidade do Pires potencializar forças com a Mina Casa de Pedra, a empresa chamou o sindicato para uma reunião e fez uma proposta econômica concreta de PLR, equiparação salarial, abono dos dias parados e ausência de perseguição dos que aderiram a paralisação. No entanto, para receber a proposta, os operadores teriam que suspender o movimento até segunda-feira, 4 de abril, às 17h.

Em uma assembleia no domingo, 3 de abril, 77% dos funcionários rejeitaram a ideia de suspensão do movimento para receber a proposta da CSN. Assim, o movimento seguiu. Segundo Duda, houve setores com praticamente 90% de adesão à paralisação, muitos resistiram até a presença policial em uma tentativa, segundo ele, de “intimidar” os trabalhadores. Além disso, de acordo com Rafael, a empresa fez ameaças de descontar os dias de trabalho não cumpridos no salário e de demissão à categoria.

“O que está acontecendo com os trabalhadores na luta, a bravura, a forma como os companheiros estão lutando, isso nunca aconteceu aqui na Casa de Pedra, na Unidade do pires ou em qualquer outro lugar da CSN. Os companheiros da mineração estão sendo exemplo em nível nacional na luta contra os desmandos da empresa, pedindo uma vida melhor e dignidade. Os trabalhadores estão aderindo cada vez mais a nossa mobilização. A CSN, de uma forma arbitrária, está tentando colocar os trabalhadores dentro da mina, chamando van, caminhonete, obrigando os trabalhadores a subirem”, relatou o presidente do Sindicato Metabase dos Inconfidentes.

Apoio

Eduardo Henrique, secretário-geral da federação nacional de petroleiros, Eduardo Henrique, manifestou apoio ao movimento dos funcionários da CSN Mineração em Congonhas. “A gente sabe que essa luta é de todos os trabalhadores, ainda mais nesta situação que estamos enfrentando no nosso país. Vamos unir as categorias, petroleiros, mineradores e metalúrgicos para construir uma grande luta nacional neste país”, disse.

Quem também se manifestou em apoio aos trabalhadores paralisados em Congonhas foi o diretor do sindicato dos metalúrgicos de Pirapora, que faz parte da Federação Sindical e Democrática dos Metalúrgicos de Minas Gerais e da CSP Conlutas, Aldiério Pereira. Ele salientou que a CSN faz parte do setor de mineração, que vem batendo recordes de lucratividade mesmo em meio à pandemia. O diretor também afirmou que o setor “obrigou” os trabalhadores a trabalharem com insegurança de saúde em meio à pandemia.

“No meio de uma crise econômica brutal, com o aumento bárbaro do arroz, do feijão, do óleo, do trigo, principalmente do botijão de gás e o valor do combustível. As condições de vida da classe trabalhadora estão só piorando, mas, em compensação, o lucro das grandes empresa, como o da CSN, só aumenta. Ela aumentou, só de 2021 para 2022, quase 300%, é mais de R$ 10 bilhões que foram para seus donos e acionistas, enquanto os seus trabalhadores lutam por aumento de salário, PLR, plano de carga e salário, piso decente e melhores condições de trabalho”, disse Aldiério Pereira.

Ainda de acordo com o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Pirapora, as reivindicações em Congonhas são de muito tempo, mas ele afirma que a empresa, seus gerentes e acionistas não ligam para os trabalhadores. Por isso, os funcionários cansaram de apenas revindicar com palavras e partiram para a greve.

“Nossa Federação Sindical e Democrática dos Metalúrgicos de Minas Gerais está junto com os companheiros do Sindicato Metabase Inconfidentes, apoiando essa luta e falando para todos os trabalhadores que estão nos setores de mineração, petroleiro, bancário, agronegócio e da saúde, que estão batendo recordes de lucro e a classe trabalhadora só ver o seu salário achatado. Por isso, é muito importante apoiar a luta dos trabalhadores da CSN e construir uma grande greve unificada”, complementou.

A professora do curso de Serviço Social da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), que compõe a atual diretoria da Associação dos Docentes da UFOP e a Frente Mineira de Luta das Atingidas e Atingidos pela Mineração em Minas Gerais (Flama), Kathiuça Bertollo, também manifestou apoio à paralisação dos trabalhadores da CSN.

“Esse contexto de luta e resistência coletiva é muito importante, uma vez que a super exploração da força de trabalho é a forma de atuação das mineradoras. Enquanto elas têm lucros exorbitantes, os trabalhadores sofrem com os baixos salários, a insalubridade, os acidentes de trabalho, os valores baixos pagos nos cartões de alimentação, são colocados em risco de contaminação neste período tão duro da pandemia”, disse.

Kathiuça ainda ressaltou que Congonhas é mais um dos municípios mineiros que também sofrem com o risco iminente de rompimento da barragem de rejeitos. “Isso é resultado deste atual modelo produtivo da mineração, que desconsidera a vida humana e a natureza. É um cenário de extremo risco e sofrimentos aos trabalhadores”, finalizou.

Segunda negociação

Crédito: Sindicato Metabase dos Inconfidentes
Crédito: Sindicato Metabase dos Inconfidentes

Na segunda-feira, 4 de abril, às 8h, muitos trabalhadores estiveram na estrada de acesso à Mina Casa da Pedra, da CSN, no quinto dia de mobilização dos operários. Eles dialogaram com os funcionários que estavam acessando a estrada principal, os conscientizando para aderirem ao movimento. De acordo com o trabalhador da LGA e diretor do Sindicato Metabase dos Inconfidentes, Ivan Tagino, a adesão foi quase total, foram poucos os trabalhadores que quiseram trabalhar. Para ele, os que não aderiram à greve foram pressionados pela empresa.

“Há muito assédio, muita ameaça e muito jogo sujo das lideranças da CSN, tentaram desmobilizar os trabalhadores. São anos de supressão da CSN, injustificado no ponto de vista financeiro e econômico. O ano de 2021 foi histórico, recorde de produção, de ganhos e, segundo a própria empresa, a CSN triplicou seus ganhos. Segundo o estatuto da empresa, 25% de toda a riqueza produzida dentro da CSN será repassado para poucos ‘gatos pingados’, que são os acionistas majoritários da companhia. Infelizmente, aos trabalhadores, restam os salários mais baixos da região, com um dos trabalhos mais desvalorizados, cartão-alimentação à míngua, ausência de política de valorização de PLR”, relatou Ivan Tagino.

Ainda de acordo com o diretor do Sindicato Metabase dos Inconfidentes, a ausência da PLR é um dos estopins que está colocando os trabalhadores em mobilização. Além disso, para ele, há uma profunda divergência salarial entre o que é pago e o que é necessário para o trabalhador se manter. E ainda, para Ivan, há uma necessidade de um programa racional de classificação e valorização dos funcionários ao passar do tempo para acabar com qualquer distorção existente entre os cerca de 7 mil operadores da CSN.

Para Ivan, só o fato da empresa chamar os representantes dos grevistas para uma nova negociação já se trata de uma “importante vitória”, pois a companhia teve uma postura diferente da que tem adotado nos últimos anos. “Nós passamos dois anos enquanto sindicato alertando para a empresa que as condições estavam desumanas e que era preciso negociar uma mudança de postura salarial para valorizar e garantir a dignidade de seus operários. Infelizmente, a CSN vinha adotando uma postura irresponsável e fingindo que estava tudo bem, mas a indignação superou o medo”, finalizou.

De acordo com a Istoé, a CSN registrou, no quarto trimestre de 2021, um lucro líquido de R$ 1,061 bilhão, representando uma queda de 73% na comparação com o mesmo período do ano anterior. No entanto, contabilizando todo o ano passado, a companhia registrou lucro líquido de R$ 13,6 bilhões em 2021, registrando um aumento de 217% em relação ao ano anterior.

Aumento da paralisação

Crédito: Sindicato Metabase dos Inconfidentes

O presidente do Sindicato Metabase dos Inconfidentes atualizou sobre as tratativas de negociação com a empresa no fim da tarde de terça-feira. Duda relatou que a CSN desmarcou a reunião que estava agendada e, para ele, a empresa fez isso para tentar refluir o movimento da categoria.

“A CSN, no dia de hoje, como um menino birrento, com falta de caráter, com uma sacanagem enorme, desmarcou a nossa reunião que estava agendada. Temos que ir para cima da CSN. A orientação do sindicato é para permanecer no estado de mobilização e não ir trabalhar”, disse Rafael.

Na quarta-feira, 6 de abril, todos os funcionários da companhia estão convocados para se mobilizarem em todas as portarias da CSN, afim de paralisar toda a produção da empresa.

Mais Minas fez contato com a CSN Mineração, mas não obteve resposta até o momento da publicação.

Veja também: