Como a literatura brasileira pode contribuir para a discussão sobre o fim da escala 6×1

Como a literatura brasileira pode contribuir para a discussão sobre o fim da escala 6x1

A escala 6×1, em que o trabalhador exerce suas funções por seis dias consecutivos e tem direito a apenas um dia de folga, é uma prática comum em diversas atividades econômicas no Brasil. Apesar de atender às exigências legais, essa dinâmica laboral tem sido criticada por seus impactos no bem-estar físico e mental dos trabalhadores, que pedem o seu fim. Na literatura brasileira, que frequentemente reflete as questões sociais do país, é possível encontrar exemplos que ilustram os desafios da rotina exaustiva de trabalho e suscitam reflexões sobre a necessidade de mudanças nesse modelo.

O trabalho extenuante e desumanizador representado pela escala 6×1 encontra paralelos em obras como “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos (1892-1953). Nessa narrativa, a família de Fabiano vive uma rotina árdua e repetitiva, marcada pela luta diária pela sobrevivência em meio à seca e à pobreza. Embora não trate diretamente de uma escala formal de trabalho, a obra expõe como o ciclo incessante de tarefas compromete não apenas a saúde física, mas também a dignidade e os sonhos dos personagens, evidenciando as limitações de um sistema que prioriza a produtividade em detrimento do ser humano.

Outro exemplo relevante é “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto (1920-1999), que narra a jornada de Severino em busca de melhores condições de vida. O poema dramatiza a realidade de muitos trabalhadores, cuja força de trabalho é explorada em uma rotina que pouco valoriza suas necessidades individuais. A obra aponta para a urgência de um modelo laboral mais equilibrado, que permita aos indivíduos não apenas sobreviver, mas viver com dignidade.

A nossa literatura também dá voz à resistência e à busca por transformação. Em “Quarto de Despejo”, Carolina Maria de Jesus (1914-1977) relata a exaustão e as dificuldades de quem trabalha em condições precárias para garantir o mínimo necessário à sobrevivência. Embora a autora não mencione a escala 6×1, sua vivência reflete as consequências de um sistema que negligencia o bem-estar do trabalhador, sugerindo a necessidade de mudanças que valorizem a humanidade no ambiente laboral.

Essas obras mostram que a discussão sobre o fim da escala 6×1 não se trata apenas de questões práticas, como a organização de folgas, ela envolve um questionamento mais profundo sobre o modelo de trabalho vigente. A literatura brasileira revela que o trabalho, quando desprovido de equilíbrio, pode se tornar um instrumento de opressão, comprometendo a saúde física, emocional e social dos indivíduos. Assim, repensar a escala 6×1 é também repensar os valores que sustentam as relações de trabalho em nossa sociedade.

Portanto, é essencial que essa discussão avance para a construção de um sistema laboral mais humano e sustentável, que atenda às necessidades de descanso, lazer e convívio social dos trabalhadores. A literatura brasileira, assim como a música, o cinema, o teatro, etc., contribui para ampliar o debate e inspira a busca por soluções que priorizem a dignidade e a qualidade de vida, princípios fundamentais para uma sociedade mais justa e solidária.

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