Conheça o Cruzeiro, gigante clube de futebol do Brasil

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Fundado em Belo Horizonte, no dia 2 de janeiro de 2021, por operários imigrantes italianos, o Cruzeiro Esporte Clube é um dos maiores e mais bem sucedidos clubes da América, tendo acumulado conquistas, craques e uma torcida que tem seu tamanho comparado a de uma nação. A camisa azul com detalhes brancos, ou dourados, como a camisa especial de seu centenário, é facilmente reconhecida, até mesmo para quem não tem o acompanhamento do futebol como rotina.

Crédito: Vinnicius Silva/Cruzeiro

O Cruzeiro manda seus jogos no Mineirão, estádio mais icônico de Minas Gerais, apesar de, em ocasiões pontuais, já ter recebido seus adversários em estádios como Independência, Arena do Jacaré, Ipatingão e Parque do Sabiá. Quando se trata do Gigante da Pampulha, a identificação é enorme, com o time celeste tendo as maiores médias de público da história deste, tanto antes da reforma para a Copa de 2014, quanto depois, no chamado “Novo Mineirão”.

Quando o assunto são títulos, o torcedor cruzeirense tem muitos motivos de orgulho. O Cruzeiro foi o primeiro clube de Minas Gerais a conquistar títulos importantes a nível nacional, com a Taça Brasil de 1966, e a Copa Libertadores da América, de 1976. E as conquistas não pararam por aí, vieram mais títulos internacionais e nacionais, sendo a agremiação o maior vencedor da história da Copa do Brasil, maior torneio no formato dentro do futebol nacional, com seis conquistas.

O início do Cruzeiro

Dentre as três principais equipes de Minas Gerais, o Cruzeiro foi o último a ser fundado, o que não impediu seu rápido sucesso a nível estadual. O “Pavilhão do Barro Preto”, como era carinhosamente chamado pelo bairro em que se originou, nasceu com o nome de Società Sportiva Palestra Italia, em alusão a origem de seus fundadores, operários italianos que em sua maioria eram operários na construção civil de uma Belo Horizonte que começava a crescer.

Por aceitar operários como pedreiros, pintores, caminhoneiros, comerciantes e marceneiros, o Cruzeiro, até então Palestra Italia, foi enxergado como uma opção mais popular dentro do futebol belo-horizontino, visto que América-MG e Atlético-MG tiveram sua fundação vinda a partir de estudantes universitários procedentes das famílias da parte mais abastada da cidade.

As cores da nova equipe, fundada em 1921, também faziam alusão ao país europeu, sendo escudo e uniforme das cores da bandeira italiana: verde, branco e vermelho. Dentro do emblema triangular, as iniciais “P” e “I” grafadas em amarelo.

Primeiro jogo

Após fundado, o Palestra Italia não demorou a entrar em campo, imagina-se que por ser um desejo já antigo dos desportistas italianos moradores de Belo Horizonte. Pouco mais de três meses após ser criado, o clube mineiro fez sua primeira partida e venceu um combinado entre Villa Nova e Palmeiras, ambos da cidade de Nova Lima, por 2 a 0. O jogo foi realizado no estádio do Prado Mineiro e contou com lotação máxima, de 1.500 pessoas, já mostrando a influência popular do clube que futuramente, como Cruzeiro, colocaria o nome do estado de Minas Gerais no topo do futebol brasileiro e sul-americano.

Na ocasião, o atacante Nani, apelido de João Lazarotti, marcou os dois gols palestrinos. O jogador iniciou de forma arrasadora a sua história pelo clube, que se tornaria a primeira grande idolatria do Cruzeiro. O jogador ainda hoje é bastante lembrado nas páginas heróicas imortais celestes.

Primeiro clássico

Não há dúvidas de que Cruzeiro x Atlético-MG é o principal clássico de Minas Gerais. Há inclusive uma máxima que diz que o “Superclássico” começa uma semana antes e termina uma depois do jogo. E o primeiro passo dessa história foi uma surpreendente goleada daquele que até então era o caçula do futebol mineiro.

Em 17 de abril de 1921, Palestra Italia e Atlético-MG, que já havia sido campeão mineiro, fizeram a primeira partida de sua história. E deu Palestra. Um sonoro 3 a 0, com dois gols de Attilio e um de Nani. A partida abriria as portas para uma rivalidade que estremece os quatro cantos de Minas Gerais até os dias atuais.

Um fato curioso é que Nani, primeiro grande goleador celeste, também exercia a profissão de pedreiro, tendo inclusive participado da construção e jogado a partida de estreia do Estádio do Barro Preto, primeira casa do Cruzeiro na história. Isso sim é um jogador polivalente!

As primeiras conquistas do Cruzeiro

A rápida ascensão do Palestra Italia chamava a atenção nos anos 1920, pois se tratava de um time recém fundado que conseguia dificultar a vida de rivais tradicionais, já consolidados em solo mineiro. E com a inauguração do Estádio do Barro Preto, em 1923, o time entraria de vez no mapa do futebol de Minas Gerais, conquistando resultados expressivos, mesmo que ainda sem se transformarem em títulos, e agrupando craques em suas fileiras, como o caso de Ninão e Piorra, que seriam os primeiros jogadores da equipe a serem convocados para a Seleção Mineira, além do já citado Nani.

Em 1925, uma nova atitude pioneira marcou a história do Palestra Italia: a retirada da cláusula que tornava a agremiação exclusiva de italianos e descendentes, permitindo assim que atletas descendentes de outras nacionalidades fossem integrados ao elenco, tendo a lista que, futuramente se encheria de craques de diversas origens, sido encabeçada pelo jogador sírio-libanês Nereu.

E com a mudança estatutária veio o primeiro título da equipe, em 1926. Mas a conquista foi outra que não se deu de forma convencional. Na ocasião, o Palestra Italia, descontente com uma suspensão de seis meses imposta pela Federação Mineira, por disputar dois amistosos no estado de São Paulo sem a autorização da entidade, criou uma liga independente daquela organizada pela instituição máxima do futebol de Minas Gerais. Então, o antigo Cruzeiro, jogando o campeonato paralelo, se sagrou campeão da disputa, enquanto o Atlético-MG vencia a competição tradicional.

Até os dias atuais se discute se a conquista do Palestra Italia deve ser reconhecida como oficial. Mas, se na ocasião a conquista celeste foi discutível, nos anos seguintes nada pôde parar o Pavilhão do Barro Preto.

O tricampeonato

Nos anos de 1928, 1929 e 1930, o Palestra Italia reinou soberano nas Minas Gerais, conquistando o tricampeonato estadual consecutivo, sendo os dois últimos vencidos de forma invicta. Em 28, também, o time palestrino aplicou a maior goleada de sua história: 14 a 0 no extinto Alves Nogueira, com direito a nada menos que dez gols do matador Ninão, que bateu o recorde de artilharia numa só partida organizada pela Federação Mineira.

Após o tricampeonato estadual, o Palestra Italia sofreu uma debandada de seus atletas, que foram defender outras equipes ou se aposentaram. Dentre as perdas, se destacaram a dos primos Ninão e Nininho, que se transferiram para o futebol italiano, tornando-se os primeiros jogadores brasileiros contratados pelo futebol europeu, prática que, como bem sabemos, se tornaria muito comum no futuro.

De Palestra a Cruzeiro

Os anos de 1930 foram particularmente ruins para o Palestra Italia, que não tinha mais a forte equipe de outrora. Após o acachapante tricampeonato estadual, a equipe mineira só voltaria a levantar um caneco em 1940, em meio a um movimento crescente de nacionalização da equipe, onde seus principais entusiastas pediam a mudança do nome e cores da equipe, visto que esta não era mais uma agremiação exclusiva dos descendentes italianos.

A partida que deu o título mineiro de 1940 ao Palestra Italia foi também a última da agremiação com este nome. Na ocasião, os gols marcados por Niginho, que foi o primeiro jogador do Cruzeiro a marcar pela Seleção Brasileira, e Alcides, deram a vitória palestrina sobre o Atlético-MG.

Em janeiro de 1942 se deu o fim definitivo ao nome Palestra Italia, com decisão baseada na lei do governo federal brasileiro que proibia o uso de termos que fizessem referência a algum dos países do Eixo, formado por Alemanha, Japão e Itália, os quais o Brasil enfrentava na Segunda Guerra Mundial. Após meses de discussão, com a sugestão de nomes como Yale e Ypiranga, ficou definido que a agremiação passaria a se chamar Cruzeiro Esporte Clube e que seu escudo seria a constelação do Cruzeiro do Sul, principal símbolo brasileiro. As cores também deixariam de ser as da bandeira Italiana, dando lugar ao azul e branco de uma das camisas mais conhecidas do planeta.

Tricampeonato como Cruzeiro, mascote e reforma do estádio

E o novo nome pareceu ter dado sorte ao antigo Palestra Italia. Nos anos seguintes à mudança, a agora equipe estrelada voltou a ser tricampeã mineira, em 1943, 1944 e 1945, com o título de 44 tendo acontecido de forma invicta. Foi também em 45 que o Cruzeiro ganhou seu mascote, adotado até hoje. A Raposa foi a escolha do cartunista Mangabeira (Fernando Pieruccetti), do jornal Folha de Minas, pela astúcia dos dirigentes da equipe em descobrir jovens craques antes dos adversários.

Ainda em 1945, o Cruzeiro passou por mais uma nova fase de modernização: a reconstrução do Estádio do Barro Preto, que renasceria como Estádio Juscelino Kubitschek de Oliveira, ou simplesmente Estádio JK, em alusão ao atual prefeito da capital mineira. Na época, as arquibancadas foram substituídas e ampliadas, foi inaugurado o sistema de iluminação, além de uma nova drenagem para o gramado. A partir daí, o estádio se tornou o maior de Belo Horizonte. Um fato curioso é que alguns jogadores do clube participaram diretamente da construção do novo estádio, “literalmente colocando a mão na massa”.

Crise e renascimento do Cruzeiro

Mesmo com a construção do então moderno estádio e do tricampeonato mineiro, o Cruzeiro entrou numa situação complicada, onde acumulou problemas financeiros e um longo jejum de mais de dez anos sem títulos, voltando a ser campeão somente em 1956. Apesar da má fase, a Raposa sobreviveu e no final dos anos 1950 iniciou uma retomada, que abriria portas para a “Era de Ouro” do clube.

Era Mineirão

Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro

O Cruzeiro ainda viria a finalizar os anos 1950 com mais um título mineiro, em 1959, e o time que se formava na época receberia reforços nos anos seguintes que colocariam o nome do clube e do estado de Minas Gerais no topo do Brasil.

Em 1961, Felício Brandi, considerado por muitos o maior presidente da história cruzeirense, assumiu o clube. Já no primeiro ano de sua gestão, a equipe celeste voltaria a conquistar um tricampeonato estadual, colocando a taça de 1961 ao lado das de 1960 e 1959, conquistadas anteriormente. Mas o melhor ainda estaria por vir.

No ano de 1964, algumas peças chave do elenco que viria a ser o maior da história celeste desembarcaram em Belo Horizonte, como foi o caso de William, Hilton Chaves e os jovens Wilson Piazza, Dirceu Lopes e Tostão. Na época, o Cruzeiro vinha de três temporadas sem conquistas e o desejo de Brandi de formar uma equipe poderosa estava mais aceso do que nunca.

E foi em 1965 que a constelação tomou forma, curiosamente em paralelo com a inauguração do estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão, casa da Raposa até os dias atuais e dono de uma história que se confunde com a do próprio Cruzeiro, já que muitos dividem a existência do time celeste entre pré e pós-Mineirão.

Após a mudança para o novo estádio, o celeiro de craques engrenou, se tornando quase imbatível e desenvolvendo um futebol mágico, que enchia os olhos daqueles que assistiam às partidas na nova e colossal casa do Cruzeiro. E mesmo com o título mineiro de 1965, os diretores celestes não ficaram satisfeitos, reforçando o clube com jogadores como Raul Plassmann e Evaldo, que posteriormente viriam a ser grandes ídolos celestes. Tantos craques juntos não poderiam render nada diferente do que grandes conquistas.

Taça Brasil de 1966 e Minas Gerais no topo

Os primeiros anos da década de 1960 foram assombrados por aquele conhecido por muitos como o maior time da história: o Santos de Pelé. Quase imbatível e simplesmente pentacampeão brasileiro, entre 1961 e 1965, e bicampeã da Libertadores e Mundial em 1962 e 1963, a equipe do litoral paulista não temia nenhuma outra no planeta.

Mas isso mudaria ao enfrentar aquele time de jovens habilidosos e ariscos, o “rápido e rasteiro ataque do Cruzeiro”, que abriria as portas do futebol nacional de vez para outras equipes, visto que no ano seguinte, o Torneio Rio-São Paulo passou a ter que abrigar clubes de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, criando o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o “Robertão”, que foi a base do atual Campeonato Brasileiro. Tal fato se deu pela repercussão massiva da vitória do clube mineiro.

Vitória só, não. Massacre. O primeiro jogo terminou num sonoro 6 a 2 que sacudiu um jovem Mineirão. Na volta, o poderoso Santos abriu 2 a 0 no primeiro tempo e já pensava no terceiro jogo, quando em uma surpreendente reviravolta, o Cruzeiro reverteu a diferença e venceu, também, o segundo jogo, dessa vez por 3 a 2.

A conquista da Taça Brasil de 1966 não foi somente o primeiro título a nível nacional do estado de Minas Gerais, como também garantiu ao Cruzeiro a passagem para sua primeira partida internacional oficial, disputada e vencida por 1 a 0, contra o Deportivo Galicia, da Venezuela, em Caracas, pela Taça Libertadores da América.

Se conquistar o Brasil pareceu, de certa forma, fácil, pelo elástico placar agregado de 9 a 4 no poderoso Santos de Pelé, em Minas Gerais não houve quem parasse o Cruzeiro. Entre 1965 e 1969 a Raposa venceu todos os estaduais disputados, se sagrando pentacampeão e só vindo a ser derrotado em 1970.

A primeira Libertadores do Cruzeiro

Se os anos 1960 haviam colocado o Cruzeiro no topo do Brasil, os anos 1970 viriam a colocar a Raposa no lugar mais nobre do futebol Sul-Americano. É importante destacar, também, o enorme crescimento da torcida celeste no período, ganhando o apelido de “China Azul”, em comparação ao país asiático mais populoso do mundo.

Naquele momento com a maior torcida do estado de Minas Gerais e com o maior título da história do estado, o Cruzeiro estava focado em conquistar a América. Mas isso não foi tarefa fácil. Primeiro foi necessário recuperar a hegemonia estadual, perdida em 1970 e 1971, e recuperada com mais um tricampeonato mineiro, entre 1972 e 1974.

A partir daí, o poderoso time cruzeirense, que contava com nomes como Palhinha, Nelinho, Joãozinho, Roberto Batata e Perfumo, passou a disputar “nas cabeças do futebol brasileiro”, amparados pela recém construída Toca da Raposa, melhor e mais moderno Centro de Treinamento do Brasil naquele momento.

Em 1974 e 1975, a alegria do tetracampeonato mineiro se misturou com a frustração dos vice-brasileiros nos mesmos anos. A torcida do Cruzeiro questiona, inclusive, até os dias atuais a atuação da arbitragem na final de 74 contra o Vasco da Gama, quando a equipe mineira se sentiu amplamente prejudicada. Apesar das frustações, o júbilo estaria à porta, com a aproximação da Taça Libertadores de 1976.

Roberto Batata e Joãozinho

O Cruzeiro foi para a Libertadores de 1976 com um time abarrotado de craques, que chegou a conquista do título após uma enorme tragédia. Durante a campanha na competição, o clube mineiro foi abalado por uma triste notícia: o atacante Roberto Batata, um dos grandes jogadores daquela equipe, com 110 gols pela Raposa em seis temporadas, se envolveu num acidente automobilístico vindo a falecer em decorrência dos ferimentos.

Mas a equipe azul e branca usou a dor do luto como forma de motivação para chegar até a final, onde encarou o River Plate da Argentina, e levantar o caneco. E como tudo que vinha se desenhando naquela época, a conquista veio de forma épica.

No primeiro jogo, no Mineirão, o Cruzeiro goleou por 4 a 1, com dois gols de Palhinha, um de Nelinho e um de Valdo. Na volta, em Buenos Aires, o River Plate, que tinha o ídolo celeste Roberto Perfumo em sua zaga, descontou, fazendo 2 a 1. Como naquela época, os placares não eram somados, houve a necessidade da disputa de um terceiro jogo, sediado no Estádio Nacional do Chile.

E foi aí que um dos mais épicos capítulos da história celeste foi desenhado. Aos 43 minutos do segundo tempo, o jogo estava empatado em 2 a 2 e uma perigosa falta foi marcada pelo Cruzeiro. A Raposa tinha em seu elenco, o lateral-direito Nelinho, um dos maiores cobradores de falta da história do futebol. Com a infração assinalada, todos, até mesmo o narrador do jogo bradavam: “é Nelinho que tem que bater, é Nelinho que tem que bater”.

E enquanto Nelinho, o cobrador oficial, se distanciava da bola para bater, um jovem Joãozinho, de 22 anos, aproveitou a desatenção geral e colocou surpreendentemente a pelota no ângulo do goleiro Landaburu. 3 a 2 para o Cruzeiro e, como não podia ser diferente, pancadaria vindas dos argentinos, que nem assim conseguiram evitar a comemoração celeste. O gol rendeu uma das narrações de gol mais épicas da história da Raposa, feita por Vilibaldo Alves, que citou efusivamente o falecido Roberto Batata em sua narração.

Até os dias atuais, Joãozinho brinca com a reação do treinador Zezé Moreira, que invés de felicitá-lo pelo gol heróico, o aplicou uma grande bronca pela irresponsabilidade. Elogiado ou não, o “Bailarino”, como era conhecido, deu ao Cruzeiro a honra de ser o segundo clube brasileiro e primeiro do estado de Minas Gerais, a conquistar a América.

Derrota no Mundial

A conquista da América credenciou o Cruzeiro a jogar o Campeonato Mundial em 1976. O adversário era o lendário Bayern de Munique, que tinha nomes históricos como Franz Beckenbauer, Gerd Müller, Rummenigge e Sepp Maier. Na ida, disputada em território alemão, a Raposa sucumbiu ao frio, à neve e aos craques europeus, perdendo de dois a zero. Na volta, com um público de 115 mil pessoas no Mineirão, o time celeste não conseguir furar a meta de Meier e o empate em 0 a 0 sagrou o Bayern campeão.

A seca do Cruzeiro nos anos 1980

Se os anos 1970 renderam títulos ao Cruzeiro, os anos 1980 foram de vacas magras na Toca da Raposa. Os craques de outrora se debandaram e o time celeste passou a ser constituído por jogadores de menor status e revelações da base. Naquela década, a Raposa precisou se contentar apenas com os estaduais de 1984 e 1987.

Enxurrada de conquistas: a década de 1990

Acostumado a ganhar, o Cruzeiro não poderia se dar ao luxo de manter a seca de grandes conquistas. E na década de 1990 a maré virou totalmente, se tornando o período de maior número de conquistas na história da Raposa.

Além dos seis campeonatos mineiros em 10 anos, o Cruzeiro conquistou mais uma Copa Libertadores da América, levantada em 1997, duas Supercopas da Libertadores, vencidas consecutivamente, em 1991 e 1992, uma Recopa Sul-Americana, ganhada em 1998, além de duas Copas do Brasil, nos anos de 1993 e 1996.

No período, muitos jogadores históricos vestiram a camisa do Cruzeiro. Entre eles podemos destacar o goleiro Dida, herói da Libertadores de 1997, vencida sobre o Sporting Cristal com gol de Elivélton, o polêmico Renato Gaúcho, que esteve em grande fase em 1992, e os craques Roberto Gaúcho e Luizinho, as lendas Nonato e Luizinho, Palhinha (sim, outro), Wilson Gotardo, Ronaldo Fenômeno, o matador Marcelo Ramos, entre outras estrelas, estiveram em evidência naquela década.

Dentre essas conquistas, se destacam algumas vitórias surpreendentes, como a virada sobre o River Plate na Supercopa de 1991, quando o Cruzeiro fez 3 a 0 na volta para reverter o 2 a 0 na ida, e o título da Copa do Brasil de 96 em cima do todo poderoso “Palmeiras da Parmalat”.

Mais uma frustração no Mundial

A conquista da Libertadores de 1997 levou o Cruzeiro a enfrentar, mais uma vez, um alemão na final do Mundial. Dessa vez, o adversário foi o Borussia Dortmund. Os confrontos levantam muita controvérsia até hoje, pois o time celeste, que fazia má campanha no Brasileirão daquele ano, resolveu montar um time “de aluguel” para a disputa do torneio. Craques nacionais como Bebeto, Donizete Pantera, Gonçalves e Alberto Valentim, foram contratados por empréstimo somente para aquela partida. Com o desmanche da equipe base da conquista continental, o time celeste não suportou os aurinegros e foi superado por 2 a 0 na partida única disputada em Tóquio, no Japão.

Copa do Brasil de 2000

Já desacostumando a ficar sem vencer, o Cruzeiro não demorou a emplacar mais um título, após a frustração no mundial de 1997. Em 2000, mais uma vez de forma épica, o Cruzeiro venceria sua terceira Copa do Brasil, batendo o forte São Paulo de Raí e França na final.

Após um 0 a 0 no jogo de ida, disputado no Morumbi, o Cruzeiro buscou uma virada a partir dos 35 minutos do segundo tempo, após sair perdendo por 1 a 0. O artilheiro Fábio Júnior fez o gol de empate, aos 35, e Giovanni, aos 45 da segunda etapa, contou com um desvio na barreira para marcar aquele que seria o gol do tricampeonato celeste. ídolos da Raposa como Cris, Sorín e Ricardinho estavam naquela equipe.

A Tríplice Coroa

Alex – Foto: Alex de Souza/Facebook/Divulgação

Três anos mais tarde, em 2003, uma equipe assombrou o Brasil com um futebol avassalador e uma conquista até então inédita em solo tupiniquim. O Cruzeiro, treinado por Vanderlei Luxemburgo, passeou naquele ano, vencendo a Tríplice Coroa: Campeonato Mineiro, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro, primeiro da história a ser disputado em pontos corridos.

O time comandado pelo gênio Alex até hoje é lembrado como um dos maiores da história do futebol brasileiro, não só pelos números impressionantes, que passaram dos 100 pontos e 100 gols naquela edição do campeonato nacional, mas também pela magia dos lances protagonizados por uma equipe imbatível.

10 anos sem conquistas

Quem assistiu o time de 2003, podia afirmar que aquela equipe dominaria o futebol brasileiro por anos, mas uma debandada de jogadores e do treinador Vanderlei Luxemburgo, e contratações que não vingaram, como do craque Rivaldo que chegou com status de ex-melhor do mundo, fizeram o time perder o protagonismo nos anos seguintes, se contentando em brigar por vaga na Copa Libertadores e no insucesso do rival, Atlético-MG, que havia sido rebaixado para a segunda divisão nacional, em 2005.

O Cruzeiro voltaria a disputar títulos em 2009 e 2010, mas dois vices, primeiro na Copa Libertadores, após sofrer uma virada em casa, e depois no Brasileirão, após uma arrancada espetacular, fizeram o torcedor celeste começar a sentir falta dos gritos de campeão que fossem além dos estaduais, torneio que dominou no período, chegando a golear o Atlético-MG por 5 a 0 em dois anos seguidos, 2008 e 09.

Cruzeiro 6 x 1 Atlético-MG

Em 2011, a empolgação do torcedor cruzeirense após um ótimo início de temporada, se tornou apreensão quando o time passou a ser eliminado nas copas e a despencar no Brasileirão. E para piorar o já incômodo jejum de grandes conquistas, algo que há muito não acontecia, se tornou realidade: O Cruzeiro brigava contra o rebaixamento.

E a briga se estendeu até a última rodada do campeonato, quando o Cruzeiro foi enfrentar o grande rival, Atlético-MG, na Arena do Jacaré, em Sete Lagoas, já que o Mineirão estava em obras para a Copa de 2014. Empolgados pela oportunidade de rebaixar o grande rival pela primeira vez com uma vitória simples, os atleticanos provocaram bastante durante a semana, confiantes pelo fato de que a Raposa estava sem seus dois principais jogadores, o goleiro Fábio e o meia Montillo, suspensos.

Mas quando a bola rolou, o que se viu foi um dos maiores massacres da história do futebol brasileiro. O acanhado estádio, lotado de cruzeirenses, assistiu uma sequência inacreditável de gols, que terminaria num humilhante 6 a 1. O que era pra ser uma grande festa atleticana se tornou um dos grandes vexames da história do clube, lembrado por rivais em muitas oportunidades, até os dias atuais.

O retorno do Cruzeiro ao topo do Brasil

Apesar da euforia causada pelo 6 a 1, ainda faltavam títulos expressivos ao Cruzeiro, e estes vieram em dose dupla nos anos de 2013 e 2014. Um elenco recheado de apostas ainda pouco conhecidas “deu liga” nas mãos do treinador Marcelo Oliveira e passou por cima dos adversários nos Brasileirões daquele ano.

Fábio, Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart, Nilton, Dedé, Borges, Marcelo Moreno, Willian, Dagoberto e companhia, faziam mágica em campo e inevitavelmente despertaram comparações ao histórico time de 2003. Saber qual venceria um confronto é impossível, mas é inegável que o Cruzeiro de 2013/14 se elevou ao panteão das grandes equipes do futebol brasileiro.

Anos ruins e o reinado em Copas

Com o desmanche do time de 2014, em 2015, o Cruzeiro não conseguiu manter o nível de atuação e passou a brigar nos anos seguintes do bicampeonato nacional para não cair para a Série B. Erros em contratações e aquisições “tapa-buraco” começaram a endividar o clube e rapidamente o biênio de glórias virou memória.

Após duas temporadas difíceis, o time celeste buscou reforços mais qualificados em 2017 e contou com a evolução de alguns nomes que já estavam no elenco, como os meias Alisson e Arrascaeta, para voltar a ser competitivo. E essa equipe, liderada pelo veterano Thiago Neves, conseguiu quebrar mais um tabu que incomodava a torcida: o jejum de 14 anos em Copas.

Com mais uma campanha épica, o time celeste galgou todas as fases da competição, eliminando fortes equipes do Campeonato Brasileiro, para se sagrar campeão, contra o Flamengo. O goleiro e maior ídolo recente do clube, Fábio, foi o grande nome da conquista, sendo responsável por defesas de pênaltis na semifinal e final.

E o time não parou por aí, embalado com a conquista, reforços chegaram em 2018 e o Cruzeiro voltou a brigar forte nas Copas, até então especialidade do treinador Mano Menezes. Na Libertadores, caiu nas quartas após arbitragens controversas em favor do adversário, Boca Juniors. Mas na Copa do Brasil, não houve quem parasse a equipe celeste.

Fábio parecia cada vez melhor e o time aprimorou o sistema de jogo baseado em lindos e mortais contra-ataques. Ao bater o Corinthians nos dois jogos da final, o Cruzeiro voltava a protagonizar um feito inédito: o primeiro clube a ganhar duas Copas do Brasil de forma consecutiva. A partir daí, o time celeste se isolou como o maior campeão da competição, com seis conquistas, fazendo valer a alcunha de “Rei de Copas”.

Crise e rebaixamento

Thiago Neves – Foto: Bruno Haddad/Cruzeiro

Maquiadas pelas conquistas dos últimos anos, as dívidas do Cruzeiro aumentavam exponencialmente, frutos de administrações ruins e acusadas de corrupção. Isso fez com que o time que entrou em 2019 com o título de “favorito a todos os títulos”, passasse por um desmanche e por atrasos de salários. Saíram Murilo, Raniel, Lucas Romero, Lucas Silva e não vieram reposições à altura. Os atrasos na folha de pagamento e uma reportagem do Fantástico, da TV Globo, que denunciou possíveis irregularidades no clube, minou ainda mais a equipe.

Com o correr do ano os resultados não vinham e polêmicas se acumulavam, vindo de jogadores, direção e torcida. E em dezembro de 2019 foi consolidado o primeiro rebaixamento da história do Cruzeiro.

Dificuldades na segunda divisão

Cair nunca é bom, mas a queda do Cruzeiro veio no pior momento possível. Uma mudança nos regulamentos nacionais retirou o direito dos times recém-rebaixados a receberem cotas financeiras “de Série A” durante o primeiro ano de Série B. Com uma dívida astronômica e uma arrecadação ínfima, o time celeste não conseguiu fazer valer seu tamanho, fazendo péssima campanha na segunda divisão nacional.

Com a torcida fora dos estádios por causa da pandemia do novo coronavírus, credores batendo à porta e punições da FIFA que foram de perda de 6 pontos na segunda divisão até a proibição de registrar novos jogadores, o Cruzeiro passou longe de retornar a Série A em 2020, ficando pelo segundo ano fora da elite do futebol.

Atualmente o Cruzeiro tenta se reconstruir e busca formas de viabilizar suas operações. A ideia do clube é de adotar o modelo S/A, o famoso clube-empresa. Mas o que se sabe é que quanto mais um dos maiores clubes do planeta permanecer na segunda divisão, mais complicado será seu retorno.

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