Jovem é baleada após carro entrar por engano na Maré: entenda em dados a violência no Rio de Janeiro

Na manhã de quarta-feira (18), uma adolescente de 14 anos foi baleada no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro, após o carro da família entrar por engano na comunidade. O incidente reacende o debate sobre a violência no Rio e o papel do tráfico de drogas nas favelas da cidade.

Jovem é baleada após carro entrar por engano na Maré: entenda em dados a violência no Rio de Janeiro
Estado de saúde da jovem baleada no Rio de Janeiro é considerado estável (Foto: Reprodução)

A jovem, natural de Belo Horizonte, estava com seu pai no Rio de Janeiro para emitir o visto no Consulado Americano. O pai, ao seguir as orientações do GPS, errou o acesso na Avenida Brasil e entrou no Morro do Timbau, área dominada por facções criminosas. Ao perceber que estavam em uma área de risco, ele tentou fugir, mas foi alvejado por homens armados que atiraram contra o veículo, atingindo a adolescente.

A vítima foi levada em estado grave ao hospital, onde passou por tratamento intensivo. Segundo o pai, ela já deixou o Centro de Terapia Intensiva (CTI), está consciente, conversando e utilizando o celular.

Violência no Rio de Janeiro: uma análise em dados

A violência urbana no Rio de Janeiro, especialmente em áreas controladas pelo tráfico de drogas, não é um problema recente, mas os números atuais revelam uma situação alarmante. Segundo o Numbeo, um banco de dados internacional colaborativo, o Brasil é o segundo país com mais cidades entre as 50 mais perigosas do mundo, com o Rio de Janeiro ocupando a 7ª posição.

O levantamento realizado pelo Monitor da Violência em 2023 mostrou que o Rio superou São Paulo no número de assassinatos, mesmo com uma população três vezes menor. A cidade registra, em média, nove mortes violentas por dia.

Dados do Instituto Fogo Cruzado apontam que apenas nos seis primeiros meses de 2024, 52 pessoas foram vítimas de balas perdidas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, demonstrando a dimensão do problema.

O que explica a alta violência no Rio de Janeiro?

O jornalista Igor Lopes, correspondente lusófono para as comunidades portuguesas, ressalta o desafio de combater o crime em uma cidade tão grande e com problemas estruturais.

Igor Lopes, correspondente lusófono para as comunidades portuguesas

“Cidades grandes têm muitos problemas sociais e a insegurança acaba ganhando terreno. No caso do Rio de Janeiro, a proximidade entre grupos ligados ao tráfico de drogas e o poder político tornam o combate ao crime ainda mais desafiante”, afirmou Lopes. Ele também observou que a violência no Rio de Janeiro é um fator que tem levado milhares de brasileiros a deixarem o país.

“Essa é, talvez, a maior razão que faz cerca de 370 mil brasileiros, sem mencionar os luso-descendentes, a se mudarem da América do Sul para a Europa, neste caso, Portugal, pela maior sensação de segurança e de paz social”, completou o jornalista.

A complexidade do combate ao crime

A situação de violência no Rio de Janeiro é multifacetada e envolve uma série de fatores. A proximidade do tráfico de drogas com o poder político, mencionada por Igor Lopes, torna o cenário ainda mais complicado. As favelas, que abrigam uma parte significativa da população da cidade, são áreas de difícil acesso e controle, onde facções criminosas mantêm poder e influenciam a vida cotidiana.

O Estado tem enfrentado dificuldades em aplicar uma política de segurança eficiente. As operações policiais, por vezes, resultam em confrontos que deixam vítimas entre os moradores, como o caso da jovem baleada na Maré. Além disso, a falta de investimentos em educação, saúde e infraestrutura nas comunidades perpetua um ciclo de pobreza e violência.

Perspectivas para o futuro

Apesar dos desafios, especialistas afirmam que é possível mudar o cenário da segurança pública no Rio de Janeiro, mas isso exigiria uma reestruturação profunda em diversas esferas. A integração das políticas de segurança com projetos sociais voltados para a educação e o desenvolvimento econômico das comunidades é apontada como um caminho possível para reduzir a violência.

No entanto, enquanto essas mudanças não ocorrem, a violência continua a ser uma realidade diária para muitos moradores do Rio de Janeiro, com trágicos incidentes como o da adolescente de Belo Horizonte ressaltando a gravidade da situação.

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