Museu da Inconfidência em Ouro Preto passa a integrar Rede UNESCO de Lugares Históricos das Rotas dos Povos Escravizados

por Redação Mais Minas

O Museu da Inconfidência, um dos mais importantes símbolos da história brasileira, localizado na cidade histórica de Ouro Preto, foi recentemente integrado à Rede de Lugares de História e Memória da UNESCO, um programa que celebra e preserva a memória da escravidão e dos povos escravizados. Essa conquista posiciona o museu entre os espaços reconhecidos mundialmente pelo seu papel na conscientização sobre os horrores da escravidão e na promoção de iniciativas educativas e culturais de reparação histórica.

Museu da Inconfidência em Ouro Preto passa a integrar Rede UNESCO de Lugares Históricos das Rotas dos Povos Escravizados
Museu da Inconfidência - Créidto: Canva

O reconhecimento não é apenas um marco para o museu, mas também para a própria cidade de Ouro Preto, que desempenhou um papel central no período colonial do Brasil, particularmente nas questões ligadas ao trabalho escravizado. Juntamente com o Museu Casa da República, no Rio de Janeiro, e o Museu Casa da Hera, em Vassouras (RJ), o Museu da Inconfidência se junta a uma rede de preservação global da memória dos povos africanos que foram sequestrados e trazidos para as Américas como escravos.

Um reconhecimento internacional de relevância histórica

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) lançou o programa Rotas dos Povos Escravizados: Resistência, Liberdade e Patrimônio em 1994, por iniciativa de países como Benim e Haiti. O objetivo desse programa é assegurar que a história da escravidão seja lembrada e estudada sob uma nova luz, com ênfase no impacto cultural, social e econômico que a escravidão teve nas sociedades modernas. Desde a criação do programa, a UNESCO tem contribuído para a produção de conhecimento inovador e fomentado o desenvolvimento de redes científicas e educacionais.

Ao ser incluído nessa rede, o Museu da Inconfidência reforça seu papel de preservar a memória dos escravizados que foram fundamentais na construção de Ouro Preto, especialmente no contexto da exploração do ouro. A importância histórica da cidade é indissociável da contribuição forçada da população negra escravizada que, por mais de dois séculos, formou a base da economia e da sociedade colonial.

Segundo o diretor do museu, Alex Calheiros, essa inclusão é uma vitória para o museu, que nos últimos anos tem realizado diversas ações voltadas para o diálogo com a comunidade e para a promoção de iniciativas antirracistas. “É uma grande felicidade para o museu, especialmente neste momento em que estamos atentos e em diálogo com a comunidade. O museu conta a história de um movimento político fundamental para a independência do Brasil, além de preservar parte importante da história de Ouro Preto”, comentou Calheiros.

Um espaço de reflexão e ação contra o racismo

Além de abrigar uma vasta coleção que remonta à época da Inconfidência Mineira, o Museu da Inconfidência se destacou recentemente por suas iniciativas educativas voltadas à conscientização sobre o passado escravocrata do Brasil. Uma das principais ações é o projeto “Este objeto, o que ele nos fala?”, que busca promover o debate sobre peças históricas que evocam a violência da escravização. A exibição de objetos relacionados ao suplício e à tortura, como correntes e instrumentos de castigo, é feita de forma a estimular uma reflexão profunda sobre a luta pela liberdade e dignidade das pessoas escravizadas.

Para Angelo Oswaldo, prefeito de Ouro Preto, a inclusão do museu na rede da UNESCO é um importante marco para a cidade, pois reconhece o trabalho contínuo de preservação da memória dos povos negros e a luta pela justiça social. “Esse título tem um grande significado para nossa cidade. Entramos em uma rede internacional de lugares que são referência na história do tráfico de escravos, para que possamos tomar consciência de todo o processo histórico e lutar cada vez mais pela liberdade, pela democracia, pela justiça e pela paz”, celebrou Oswaldo.

*Com informações da prefeitura de Ouro Preto

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