Programa de passagens aéreas baratas do governo federal fracassa e vende apenas 10 mil bilhetes em dois meses

Ministério dos Portos e Aeroportos planeja nova fase para 2025

por Rodolpho Bohrer

Após quase dois meses de lançamento, o programa Voa Brasil, criado pelo governo federal com o objetivo de oferecer passagens aéreas domésticas por até R$ 200, vendeu apenas 10,2 mil bilhetes, número que representa menos de 0,3% das 3 milhões de passagens disponíveis para este semestre. O programa, lançado em 24 de julho pelo Ministério dos Portos e Aeroportos, visava democratizar o transporte aéreo no Brasil, tornando as viagens de avião acessíveis a um público mais amplo.

Programa de passagens aéreas baratas do governo federal fracassa e vende apenas 10 mil bilhetes em dois meses
Imagem ilustrativa

Ao participar do lançamento do Voa Brasil, a ministra do Turismo substituta, Ana Carla Lopes, ressaltou a transversalidade do Programa, que promoverá impactos positivos no turismo, na economia, mas, principalmente, na inclusão social.

“O Voa Brasil não é só bilhete aéreo, é passagem, é souvenir, é alimentação, é hotel, às vezes é o ônibus ou o táxi que a pessoa vai pegar quando descer do avião. Assim como o turismo, que é uma política transversal, o programa também impactará várias atividades. Como diz o presidente Lula, “Viajar é conhecer o nosso país, é dar uma dimensão de soberania, de nação”, e o Voa Brasil tem esse olhar inclusivo e de resgate da cidadania,” pontuou Ana Carla Lopes.

Voltado inicialmente para aposentados do INSS que não viajaram de avião nos últimos 12 meses, o Voa Brasil tinha a expectativa de ampliar o acesso ao transporte aéreo, oferecendo passagens a preços reduzidos, além da inclusão de uma taxa de embarque adicional por trecho. Apesar disso, o programa não conseguiu atingir sua meta de vendas, destacando um desempenho aquém do esperado.

Lançamento do Voa Brasil Crédito André Zimmerer MTur

Números baixos e dificuldades no alcance

Desde seu lançamento, o programa vendeu apenas 0,3% das passagens previstas, um desempenho bem abaixo do esperado pelas autoridades. Esse resultado pode ser atribuído a fatores como a baixa divulgação, dificuldades de acesso à plataforma de compra, falta de interesse por parte do público-alvo e a complexidade do processo de aquisição.

Embora o governo federal tenha destacado que os destinos mais procurados incluíram as capitais do Nordeste — como Natal, Recife, Fortaleza, Salvador, João Pessoa e São Luís —, a demanda ficou bem aquém do potencial estimado. A maior parte das viagens partiu de grandes aeroportos, como Guarulhos (SP), Congonhas (SP) e Galeão (RJ), mas houve também movimentação significativa em aeroportos regionais, como os de Petrolina (PE), Vitória da Conquista (BA) e Caxias do Sul (RS).

Voa Brasil: dificuldades e expectativas para o futuro

O Ministério dos Portos e Aeroportos anunciou que a próxima etapa do Voa Brasil deve ocorrer no primeiro semestre de 2025, com foco em estudantes de instituições públicas. O governo espera que, ao ampliar o público-alvo e melhorar o sistema de vendas, a adesão ao programa aumente de forma significativa.

Além disso, há expectativas de ajustes no processo, como uma maior campanha de comunicação para informar a população sobre o programa e simplificar o acesso às passagens subsidiadas. O governo também reforça a importância de planejar as viagens com antecedência, aproveitando períodos de baixa temporada e optando por dias de menor procura, como de terça a quinta-feira.

Como adquirir passagens mais baratas?

Os interessados devem acessar o site gov.br/voabrasil, utilizando o mesmo login e senha dos outros programas do governo federal. Após o login, os usuários podem escolher origem, destino e data da viagem, e o sistema verifica a disponibilidade de assentos entre as companhias aéreas participantes.

O programa utiliza a malha aérea ociosa, ou seja, assentos disponíveis em voos com baixa ocupação, permitindo às companhias aéreas ajustar suas ofertas conforme a demanda. Essa estratégia busca otimizar o uso de voos já programados, oferecendo passagens a preços reduzidos para assentos que, de outra forma, ficariam vazios.

Cuidado com fraudes

O governo federal alerta os usuários sobre possíveis golpes envolvendo o programa. Não são enviadas mensagens com ofertas de passagens ou solicitações de pagamento via PIX. Todas as compras devem ser realizadas exclusivamente pelo site oficial, e nunca se deve compartilhar senhas ou informações pessoais com terceiros.

Desafios do programa

Embora a ideia de utilizar assentos ociosos para democratizar o transporte aéreo seja promissora, o fracasso inicial do Voa Brasil evidencia a necessidade de repensar a estratégia. Especialistas apontam que o público-alvo, composto majoritariamente por aposentados de baixa renda, pode ter enfrentado dificuldades de acesso ao site, ou simplesmente não ter interesse em viajar por avião, mesmo com o subsídio.

Adicionalmente, a necessidade de pagamento de taxas adicionais, como a de embarque, pode ter desestimulado parte do público, além do fato de que muitos aposentados podem preferir viajar por ônibus, que é uma opção mais familiar e amplamente acessível.

O futuro do Voa Brasil

Com a previsão de uma nova fase em 2025, a expectativa do governo é que o programa se recupere e atinja melhores resultados, principalmente com a inclusão de novos grupos, como estudantes de instituições públicas. No entanto, será necessário um esforço maior de divulgação e ajustes nas condições de oferta para que o Voa Brasil consiga cumprir seu propósito original de tornar as viagens aéreas mais acessíveis para a população.

“A expectativa é que, com a inclusão de estudantes e outras melhorias no programa, possamos alcançar um público maior e oferecer melhores condições de viagem para a população que mais precisa”, afirmou um representante do Ministério dos Portos e Aeroportos.

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Rodolpho Bohrer
Sócio proprietário e fundador do Mais Minas e jornalista em formação pela Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). Redator de cidades, tecnologia e política, além de link builder na Agência MaisPost e redator do portal O Noroeste.