The Great Impersonator

Um grande álbum que deixou a desejar. Porque Hasley não conseguiu impressionar?

The Great Impersonator

Desde sua estreia com Badlands em 2015, Halsey se estabeleceu como uma das figuras mais intrigantes da música pop alternativa. Conhecida por sua habilidade em transformar suas lutas pessoais em narrativas dramáticas e líricas, Halsey ganhou um público fiel que se identifica com seu retrato cru e muitas vezes sombrio das suas emoções. Com The Great Impersonator, seu quinto álbum de estúdio, a cantora mergulha mais fundo do que nunca em temas de identidade, mortalidade e a complexa dança entre sua verdadeira personalidade, Ashley Frangipane, e seu alter ego artístico, Halsey.

O conceito do álbum é tanto uma homenagem à história da música quanto uma reflexão pessoal: ele é inspirado em ícones de diferentes décadas, de Joni Mitchell a David Bowie, revelando a admiração de Halsey por figuras que moldaram a cultura pop e trazendo uma reflexão sobre a natureza da fama e da identidade pública. Escrito durante um período turbulento em sua vida – em que ela enfrentou postpartum e lúpus – Halsey descreve a sensação de ser uma “impostora profissional de Halsey”. Esse título revela, em parte, a forma como ela se sente desconectada do próprio corpo e da persona que criou há 10 anos atrás.

O álbum nos oferece uma variedade de homenagens musicais e visuais. Embora algumas músicas aludam claramente ao estilo de ícones como Fiona Apple e Bruce Springsteen, Halsey vai além da simples imitação; ela tece suas próprias experiências e suas inspirações em um trabalho que desafia as convenções. 

Em faixas como “The End”, inspirada por Joni Mitchell, Halsey canta sobre temas como a mortalidade e as batalhas pessoais, transformando a música em uma meditação lírica e melancólica. Essa canção, uma das mais autênticas do álbum, usa referências ao folk para capturar sua experiência única diante da doença e da inevitabilidade da vida.

Outro destaque é “Lonely Is the Muse”, uma faixa com letras afiadamente introspectivas sobre ser a musa de artistas passados, mas sentir-se esquecida ou reduzida a um papel de apoio. As linhas “I’ve inspired platinum records / I’ve earned platinum airline status” exploram a ideia da musa como objeto de inspiração e, simultaneamente, de negligência – um papel que Halsey questiona de maneira irônica e melancólica. Aqui, Halsey usa a figura da musa, tradicionalmente relegada à inspiração, para refletir sobre o papel da mulher na indústria musical e na sociedade, além de seu próprio sucesso.

The Great Impersonator é, ao mesmo tempo, uma exploração do legado musical e uma tentativa de Halsey de confrontar as expectativas que seu público e ela mesma criaram sobre o que significa ser uma artista em constante evolução.

 Em “I Believe in Magic”, ela examina sua relação com a maternidade e o envelhecimento, observando a passagem do tempo e sua posição como mãe e filha. A canção é um aceno tanto à perda da juventude quanto à aceitação da mortalidade.

The Great Impersonator pode ser colocado como um divisor de águas na carreira da Halsey, um trabalho que busca redefinir sua identidade musical e suas influências, um trabalho que embora seja ambicioso, não impressionar, tem momentos em que ele não consegue colocar a sua própria voz entre tantas referências. O álbum destaca a habilidade de Halsey enquanto compositora de transformar sua dor em arte – uma característica que a manteve no topo da música alternativa nos últimos anos, mas que desta vez, não parece ser o suficiente. O álbum consegue brilhar em alguns momentos, mas não tem a intensidade dos trabalhos anteriores da Hasley. The Great Impersonator soa mais como um experimento ousado do que um novo clímax artístico para a carreira de Hasley, uma jornada interessante, mas que não consegue impressionar. 

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