Caminhoneiros autônomos de Congonhas e municípios vizinhos participaram de uma audiência pública nesta segunda-feira (9 de dezembro de 2024), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). A categoria denunciou práticas consideradas injustas por mineradoras, como o favorecimento a grandes transportadoras, redução de fretes e condições precárias de trabalho. O encontro foi promovido pela Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social da ALMG, em busca de soluções para os problemas enfrentados pelos trabalhadores locais.
Durante a audiência, representantes da categoria apresentaram relatos de insatisfação quanto ao tratamento recebido pelas mineradoras. A presidente da Associação dos Caminhoneiros e Amigos do Alto Paraopeba e Campo das Vertentes, Camila Santos, destacou a importância histórica dos caminhoneiros para o crescimento das mineradoras. Segundo ela, empresas como Gerdau, Herculano, Ferro+ e Vale têm dado preferência a transportadoras externas, em detrimento dos profissionais autônomos locais.
“Essas mineradoras se expandiram graças aos caminhoneiros autônomos, mas agora somos descartados”, afirmou Camila. Ela criticou o foco exclusivo no lucro, sem considerar os impactos socioeconômicos na região e as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores locais.
Além disso, os caminhoneiros se queixaram do valor reduzido do frete, atualmente abaixo do piso regulado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). O caminhoneiro Edmar Charles relatou a gravidade da situação: “Estamos trabalhando só para sobreviver, e com dificuldade.” Segundo ele, os custos de manutenção dos veículos têm levado muitos a abandonar temporariamente a profissão para buscar outras fontes de renda.
Os trabalhadores também denunciaram a imposição de regras que dificultam a rotina dos autônomos. Entre elas estão a obrigatoriedade de manter o veículo ligado enquanto aguardam carregamento, a proibição de estacionar no pátio das mineradoras e dificuldades até mesmo para acessar banheiros.
“É praticamente um trabalho análogo à escravidão”, afirmou José Luís, caminhoneiro local. As críticas foram reforçadas por outros profissionais, que apontaram um tratamento mais rígido aos autônomos em comparação aos motoristas das grandes transportadoras.
Representando o governo estadual, Marco Antônio Gaspar, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, destacou as limitações em relação a questões como o preço do pedágio e a dinâmica do mercado. Contudo, ele anunciou que o governo pretende organizar um encontro de negócios no início de 2025, reunindo mineradoras e siderúrgicas para sensibilizá-las sobre os benefícios da contratação de mão de obra local.
Gaspar também sugeriu que os caminhoneiros se organizem em cooperativas, o que, segundo ele, pode aumentar o poder de negociação e reduzir custos operacionais por meio de parcerias com prestadores de serviços, como oficinas mecânicas.
A deputada Beatriz Cerqueira (PT), autora do requerimento da audiência, cobrou ações concretas da Prefeitura de Congonhas e do governo estadual. Ela defendeu medidas como a isenção de pedágios para os caminhoneiros autônomos e a criação de uma mesa de negociação para buscar soluções imediatas.
“Essas empresas se instalam, exploram os territórios, recebem isenções fiscais e depois dispensam os trabalhadores como querem. Isso é inaceitável diante dos lucros bilionários que obtêm”, afirmou a deputada.