Uma das cidades mais conhecidas e visitadas no Brasil, além de ser Patrimônio Cultural da Humanidade. Poucas pessoas podem dizer que nunca ouviram falar de Ouro Preto, dada sua relevância histórica e social, turística, cultural e educacional, dentre tantos outros pontos que precedem sua fama em todo o mundo. Situado na região central de Minas Gerais, o município, elevado à condição de vila em 8 de julho de 1711, completou 310 anos de existência no ano de 2021.
Atualmente, Ouro Preto possui uma população estimada de 74.558 pessoas, de acordo com o IBGE. A área da cidade é de 1.245,865 km², estando a cidade localizada na Região dos Inconfidentes, sendo abrangida pela mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte. Com forte apelo histórico, como já citado, o município também recebe atividade mineradora e sedia a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), que possui campus também em Mariana e João Monlevade.
A história de Ouro Preto e de seu estado, Minas Gerais, se misturam, tendo o município sido a capital mineira durante muito tempo, além de ter sediado eventos importantes que fizeram parte da formação de identidade mineira e brasileira. Mas antes de chegarmos nessa parte, vamos entender como tudo começou na cidade.
História de Ouro Preto
A história de Ouro Preto começou antes de sequer haver cidade. A área onde se encontra a Região dos Inconfidentes era, inicialmente, ocupada por povos nativos. Com as expedições Bandeirantes em busca de ouro, a partir do século XVI, muitos desses povos foram dizimados, incluindo os desta região, que teve seu ouro descoberto no final do século XVII.
A partir deste momento, o número de pessoas se encaminhando para a região aumentou bastante e, consequentemente, alguns arraiais começaram a surgir, para acomodar os que chegavam ao local.
E foi em 1698 que o bandeirante Antônio Dias de Oliveira, o Padre João de Faria Fialho e o Coronel Tomás Lopes de Camargo, juntamente com seu irmão, criaram o arraial do Padre Faria. Com o passar do tempo, outros arraiais se uniram àquele criado por Antônio Dias e os demais fundadores, o que resultou, no ano de 1711, na elevação para a categoria de Vila, se tornando então a Vila Rica.
Não tardou para que a recém criada vila se tornasse a capital da nova capitania de Minas Gerais, divisão administrativa do Brasil colonial, criada em 2 de dezembro de 1720, a partir da cisão da capitania de São Paulo e Minas de Ouro. Já a próxima mudança demorou um pouco mais a acontecer, cerca de 100 anos.
Ouro Preto como nome
Com a Independência do Brasil, acontecida em 1823, Vila Rica recebeu de Dom Pedro I o título de Imperial Cidade, tornando-se assim, de forma oficial, a capital da província e posteriormente do estado de Minas Gerais e ostentando o nome de Imperial Cidade de Ouro Preto. E assim se foi até 1897, quando houve a transferência da capital para Belo Horizonte, vista com um potencial maior de crescimento urbano.
Essa mudança acabou fazendo com que 45% da população de Ouro Preto deixasse a cidade naquela época, o que hoje se reflete na preservação do patrimônio histórico da cidade, já que não houve um grande crescimento urbano, que muitas vezes é o responsável pela deterioração e perda patrimonial deste tipo de acervo.
Tombamentos
Com a ascensão do movimento modernista, já no século XX, as igrejas barrocas/rococós e o casario colonial passaram a ser vistas de uma forma diferente no meio cultural, o que gerou uma grande valorização deste patrimônio, considerado genuinamente brasileiro. Em 1933, a cidade de Ouro Preto foi considerada Patrimônio Nacional. Em 1938, foi tombada por um órgão equivalente ao atual Iphan. E anos mais tarde, em 5 de novembro 1980, a cidade se tornou Patrimônio Cultural da Humanidade, recebendo o título diretamente de Paris, na França, que recebia a quarta sessão do Comitê do Patrimônio Mundial da UNESCO.
É importante ressaltar que para receber títulos como este não basta paisagens bonitas ou construções únicas, e dentre o que credenciou Ouro Preto às classificações está o conjunto da cidade e sua contribuição histórica para seu país, sem esquecer, é claro, da conservação do patrimônio e do investimento público na preservação e valorização deste.
O patrimônio rico da cidade, suas classificações como patrimônio, as lindas paisagens naturais, climas únicos e rica culinária mineira, dentre outros aspectos, fazem com que Ouro Preto receba continuamente uma grande massa de turistas. De acordo com o site da prefeitura da cidade, em matéria publicada no dia 29/08/2019, com dados da Secretaria Municipal de Turismo, Indústria e Comércio, naquela época, num mundo pré-pandêmico, o município recebia, em média, 500 mil visitantes por ano.
Pontos turísticos de Ouro Preto
Já que estamos falando de turismo, podemos pegar um “gancho” para falar das principais atrações turísticas de Ouro Preto, sejam elas forjadas pelas mãos dos homens ou pela força da natureza. E em ambos os casos, a cidade tem muito a oferecer, desde suas centenárias igrejas e casarões, até belos parques naturais, cachoeiras e picos.
Igrejas
Possivelmente sejam estas as primeiras imagens que vem na cabeça de alguém quando o assunto é Ouro Preto. A cidade é muito conhecida por suas igrejas históricas, imponentes e numerosas. São poucos os pontos da parte antiga da cidade e suas redondezas em que não se consegue ver uma construção do tipo, sendo comum ver um número grande delas sem ter que sair do lugar.
São 12 igrejas na cidade, projetadas por, ou que possuem obras de, nomes como Manuel Francisco Lisboa, pai de Aleijadinho, do próprio Aleijadinho, Chico Rei e de pinturas feitas por Mestre Ataíde, que tem sua obra prima, a pintura “Assunção da Virgem”, cobrindo todo o teto da Igreja de São Francisco de Assis.
As doze igrejas de Ouro Preto são: Basílica de Nossa Senhora do Pilar, Igreja de Nossa Senhora do Carmo, Igreja de São Francisco de Assis, Igreja de Nossa Senhora das Mercês e Perdões, Igreja de Nossa Senhora da Conceição, Igreja de Santa Efigênia, Igreja de São Miguel e Almas, Igreja de Nossa Senhora do Rosário, Igreja de São Francisco de Paula, Igreja de São José, Igreja de Nossa Senhora das Mercês e Misericórdia e Matriz de Santo Antônio, localizada no distrito de Glaura.
Cada uma dessas igrejas tem características únicas, seja sua arquitetura interna, externa, suas pinturas e obras, localização, construção, dentre outras. Por exemplo, como já citado acima, é a Igreja de São Francisco de Assis, uma das mais procuradas pelos turistas, estando entre as sete maravilhas de origem portuguesa no mundo. Além da “Assunção da Virgem” em seu teto, a construção conta com obras de Aleijadinho em sua decoração interna.
Outra igreja bastante famosa é a Basílica de Nossa Senhora do Pilar, que além de se erguer imponente por entre os casarões ouro-pretanos numa paisagem de tirar o fôlego, segue impressionando quando adentrada, visto as enormes quantidades de ouro presentes em sua decoração. Não à toa, a basílica é a segunda igreja com a maior quantidade de ouro no Brasil. Sem deixar de citar o Museu de Arte Sacra, sediado no local.
As igrejas de Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora do Rosário também têm suas particularidades. A primeira, também chamada de Igreja do Antônio Dias, pelo local onde está localizada, foi construída pelo pai de Aleijadinho e abriga a sepultura do próprio Aleijadinho. Já a segunda citada chama a atenção pelo formato arredondado de sua fachada, diferenciando-a totalmente das outras igrejas de Ouro Preto. Apesar da imponente fachada, seu interior é mais simples que o de outras igrejas da cidade.
A Igreja de Santa Efigênia, por sua vez, se destaca por sua localização, que permite uma vista incrível de Ouro Preto, e por sua história. Segundo a tradição oral, ela foi construída por Chico Rei, o rei africano que foi escravizado no Brasil. Por sua origem, ela possui grande influência africana em sua decoração.
Diversificadas, as igrejas de Ouro Preto guardam muita história dentro e fora de suas paredes, transformando-as em destinos imperdíveis na cidade, seja quais forem escolhidas, se não todas, é claro.
Capelas
Outra parte importante do acervo histórico de Ouro Preto são as capelas da cidade, que encantam por sua linda simplicidade e harmonia de seus componentes. Não é preciso muito esforço para notar as diferenças entre elas e as grandiosas igrejas, mas isso não significa que sejam menos impressionantes.
São quatro as capelas ouro-pretanas: Capela do Padre Faria, Capela de Nossa Senhora das Dores do Monte Calvário, Capela de Nosso Senhor do Bonfim e Capela de Bom Jesus da Pedra Fria.
Apesar de menores em comparação às igrejas, as capelas de Ouro Preto carregam esculturas, entalhes e pinturas de saltar os olhos, além de, é claro, suas histórias. A Capela do Padre Faria, por exemplo, surpreende por sua riqueza em adornos interiores, confrontada com sua simplicidade externa. Já a Capela de Nosso Senhor do Bonfim era o local onde os condenados à morte na cidade paravam para assistir sua última missa em vida, como conta o poeta Manuel Bandeira.
Passos
Outros pontos belíssimos de Ouro Preto são os passos, pequenas e simples capelas construídas com a finalidade de servirem como parada para a Procissão do Senhor dos Passos. Estes locais permanecem fechados por todo o ano, exceto durante a Semana Santa, que é quando continuam servindo ao propósito pelo qual foram erguidos.
Ouro Preto possui cinco passos, são eles: o Passo da Cruz às Costas, o Passo do Pretório, o Passo da Coroação de Espinhos, o Passo da Flagelação e o Passo da Ponte Seca.
Museus
Falar dos pontos turísticos de Ouro Preto é uma tarefa ao mesmo tempo simples e árdua. Isso porque a cidade possui tantos locais do tipo que não é preciso pensar muito para encontrar exemplos, mas falar de todos é algo que pode durar muito tempo. E além das igrejas, capelas e passos, outro local de procura intensa de visitantes são os museus.
Dentre os muitos acervos ouro-pretanos, o Museu da Inconfidência com toda certeza é o mais procurado. Erguendo-se imponente na Praça Tiradentes, de frente ao monumento em homenagem ao Mártir da Inconfidência Mineira, o museu, que já foi sede da Casa da Câmara e da Cadeia de Vila Rica, possui objetos e documentos que datam dos períodos da Inconfidência e Colonial Brasileiro.
Outro museu famoso é o Museu de Ciência e Técnica da Escola de Minas, localizado na antiga sede do Palácio dos Governadores. Lá se encontra grande acervo voltado à mineração e história natural.
Ainda se destacam o Museu Casa Guignard, a Casa de Tomás Antônio Gonzaga, o Museu Aleijadinho, o lindíssimo Museu Casa dos Contos, o Museu Casa dos Inconfidentes, o imponente Museu da Pharmacia/UFOP, o belíssimo Museu da Prata, que contém diversas peças do século XVIII, como pratarias, mobiliário D. João V, alfaias riquíssimas, objetos de arte sacra e ricos paramentos, o Museu da Siderurgia, o Museu das Reduções, que fica no distrito de Amarantina e, como o nome indica, apresenta diversas réplicas de edifícios históricos brasileiros em tamanho reduzido, e os lindíssimos museus de Arte Sacra de Ouro Preto e do Oratório. Sendo alguns destes anexos em igrejas.
Centros culturais
Juntamente com a fama histórica que Ouro Preto carrega, vem sua reputação como polo cultural, sendo uma cidade espetacular para quem busca esse tipo de programação. São muito comuns eventos musicais teatrais, plásticos…, bom, realmente todo tipo de programação que envolve cultura. Inclusive, a cidade sedia, juntamente com sua vizinha, Mariana, o Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana, uma das programações culturais mais importantes do país.
E para receber tamanha atividade cultural, a estrutura da cidade precisa atender a essa demanda. Sendo assim, existem diversos prédios e espaços com essa finalidade em Ouro Preto, alguns deles abertos para visitação. Entre todos, podemos destacar a Casa dos Contos e a Casa da Ópera, que não são “apenas” museus, a Casa dos Inconfidentes, o Cine Vila Rica, o Anexo do Museu da Inconfidência e o Centro de Convenções da UFOP.
E mesmo os espaços a céu aberto e centros comunitários dos bairros também não ficam para trás, sempre oferecendo aos moradores de Ouro Preto e visitantes, vasta programação voltada à cultura.
Minas
Nem se um ouro-pretano quisesse pregar uma peça em alguém, ele conseguiria, se essa brincadeira envolvesse negar o impacto do ciclo do ouro na cidade, visto que o nome Ouro Preto já deixa bem claro a relevância do material para a história municipal. O município foi bastante explorado durante o período, pela grande quantidade de riquezas minerais em seu solo. E isso deixou literais marcas na terra que perduram até hoje: as minas.
E minas não faltam em Ouro Preto. Há aquelas que já se tornaram pontos turísticos e são amplamente visitadas pelas excursões, mas existem também algumas que estão localizadas dentro do espaços de bares, casas e até mesmo em repúblicas estudantis. Desativadas, pontos turísticos ou uma sombra do que já foram, a situação destas engenhosas perfurações no solo não interfere no impacto que estas deixaram na cidade e toda a história que elas carregam em suas curvas. A exploração, a escravidão, a precariedade da busca por riquezas. Atravessando a cidade por baixo, os túneis são como veias ouro-pretanas que já não pulsam mais com sangue, mas sim com história.
Belezas naturais de Ouro Preto
Nem só de pontos turísticos tocados pelo homem sobrevive Ouro Preto. Aliás, bem longe disso. Com território extenso, a cidade guarda incontáveis belezas naturais, onde se destacam, exalando mineiridade, as cachoeiras, picos e trilhas, quase sempre rodeadas pela Mata Atlântica e Cerrado, além de campos rupestres, matas de Araucária (Pinhais) e florestas de candeias.
A altitude média elevada da cidade, de de 1.116 metros, torna-a uma espécie de obra de arte a céu aberto, já que em seus morros, mirantes e picos, sempre elevados, chegando a alcançar os 1.800 metros no distrito de Antônio Pereira, que se localiza na Serra do Caraça, permitem belas vistas panorâmicas, enxergadas do alto.
Um destino bastante procurado em Ouro Preto é o Pico do Itacolomi, localizado no Parque Estadual de mesmo nome, sendo ele uma pedra de 1.772 metros de altura, que é possível ser vista por grande parte da cidade. Sua estrutura já preparada para a recepção de visitantes, somadas a trilhas, lagos, rica fauna e flora, e uma imponência que chama a atenção de qualquer pessoa, fazem deste um dos principais atrativos da cidade.
E pegando o Parque Estadual do Itacolomi como gancho, trazemos o Parque Natural Municipal das Andorinhas. Localizado em meio a Mata Atlântica e Cerrado, o parque reúne grande número de cachoeiras, piscinas naturais, trilhas, pedras, mirantes e espaços abertos para convivência, além, é claro, da mata cerrada. Propício para a prática de esportes radicais, como rapel e escalada, o local abriga desde os mais destemidos aventureiros até famílias que buscam um domingo tranquilo e próximo da natureza.
A estrutura do local é tão convidativa que possui até mesmo área de churrasqueiras e quadras para práticas esportivas diversas. A demarcação de trilhas e caminhos no solo, além de presença de cercas de segurança e estruturas para apoio em pontos de mais difícil acesso fazem com que este seja um programa super interessante. Ah, e para quem jamais entrou numa cachoeira que fica dentro de uma gruta formada por gigantes rochas, tem no Parque das Andorinhas a oportunidade de conhecer uma maravilha dessa magnitude.
Fatos históricos
Já falamos bastante de história neste texto, mas a cidade de Ouro Preto parece sempre ter mais a oferecer e é impossível pensar na cidade sem lembrar de um dos eventos mais importantes da história do estado de Minas Gerais, que teve a localidade como uma de suas sedes: a Inconfidência Mineira.
Inconfidência Mineira
A Inconfidência Mineira foi uma conspiração separatista que era contra a execução da derrama, uma cobrança fiscal anual, e o domínio português. Como no momento histórico, durante os anos 1700, a cidade de Ouro Preto era o principal centro econômico da América portuguesa e a maior cidade Brasileira, o local era propício para encontros e reuniões daqueles que buscavam se rebelar perante a coroa portuguesa.
A ideia da conjuração que reunia diversos homens importantes, como padres, coronéis e capitães, dentre outras personalidades, que incluía o alferes Joaquim José da Silva Xavier, apelidado de “Tiradentes”, era fundar um país independente, que não fosse mais controlado pelos portugueses. Foi da junção desse grupo que surgiu aquele símbolo que se tornaria a bandeira do estado de Minas Gerais: o fundo branco, o triângulo e a frase vinda do latim: “Libertas Quæ Sera Tamen”, traduzida como: “Liberdade Ainda Que Tardia”.
Em 1789, cerca de um ano após a intensificação dos planos separatistas, e com a ideia de uma revolta próxima, o movimento Inconfidente foi desmantelado após a traição de um de seus membros, Joaquim Silvério dos Reis, que buscava o perdão de sua dívida com a coroa. Com isso, muitos de seus membros foram presos, um deles, Cláudio Manuel da Costa, morreu na prisão, e outros 12 foram condenados à morte. Mas com Tiradentes assumindo a liderança do movimento, os outros 11 tiveram suas penas substituídas por outras menos rígidas.
Tiradentes foi então executado e seus restos mortais foram enviados para Minas Gerais, onde ficou exposto em Ouro Preto, num poste de frente à sede do governo, para, claramente, servir como exemplo para coibir eventuais novas revoltas que pudessem surgir.
Apesar da revolta ter sido desmantelada pela coroa portuguesa, seu legado perdura até hoje. A bandeira dos Inconfidentes foi adotada de forma definitiva pelo estado e o movimento foi reconhecido como símbolo de resistência para os mineiros. Além disso, Tiradentes foi elevado pela República Brasileira à condição de mártir da independência do Brasil, além de ser considerado um dos precursores da República no país.
O dia 21 de abril, data da morte de Tiradentes, é feriado nacional no Brasil desde 1965. Como dito noutro tópico deste texto, hoje, o mártir da Inconfidência Mineira possui um monumento de 19 metros em sua homenagem, com uma estátua sua de 2,85 metros ao topo, estando este localizado numa praça que também leva seu nome. O local é considerado por muitos o “coração” de Ouro Preto. A inauguração da obra se deu em 1894.
Ouro Preto na atualidade
Hoje uma cidade relativamente pacata, exceto pelo intenso fluxo de turistas e universitários, Ouro Preto já foi a cidade mais populosa da América Latina, tendo cerca de 40 mil pessoas em 1730 e chegando a 80 mil, algumas décadas depois. Nos dias de hoje, esses números não parecem tão impressionantes, mas para efeito de comparação, na época, a cidade de São Paulo tinha menos de 8 mil pessoas. Já Nova York, nos Estados Unidos, não chegava à metade nos números de Villa Rica/Ouro Preto, que englobava as áreas que hoje são as cidades de Congonhas, Ouro Branco e Itabirito.
Antes pólo de extração de ouro, hoje a cidade de Ouro Preto tem suas atividades econômicas bastante voltadas ao turismo, mineração e metalurgia, além de gozar dos frutos de ser uma das principais cidades universitárias do país. O ramo de tecnologia também passa a ser cada vez mais presente na cidade.
Apesar de bastante conhecida por sua parte histórica e parques naturais, Ouro Preto possui diversos bairros, periféricos ou não, que diferem em grande escala da região central, sendo estes bastante populosos e com atividades que costumam diferir daquelas praticadas na parte antiga. A parte visual também é diferente, tanto na arquitetura, como no solo. O que não muda muito são os morros e vielas que estão presentes em praticamente toda a cidade.
Com o turismo sendo importante para a economia da cidade, Ouro Preto possui uma famosa gastronomia, em grande parte das vezes focada na tradicional comida mineira, além de centros de artesanato, como a grande variedade de obras em pedra-sabão que podem ser encontradas, e demais atividades que possam ser usufruídas pelos visitantes.
Educação
Ouro Preto abriga uma das mais importantes Universidades do Brasil, a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Instituída como Fundação de Direito Público em 21 de agosto de 1969, o centro de ensino tem suas origens em duas escolas centenárias, a Escola de Farmácia, fundada em 1839, e a Escola de Minas, fundada em 1876, ambas ainda em funcionamento, apesar de estarem localizadas agora em outros prédios.
São dezenas de cursos sediados em três cidades, Ouro Preto, a sede, Mariana e João Monlevade, com a sigla sendo referência principalmente nas áreas de engenharia, da escola de Minas, e Farmácia, na escola de mesmo nome. A UFOP oferece também programas de pós-graduação e ensino remoto, possuindo, ainda, atuação intensa e direta junto a comunidade das cidades em que se situa.
Repúblicas
Por ser uma cidade universitária, que recebe estudantes de todo o país, Ouro Preto passou a ter grande incidência de repúblicas estudantis, sejam elas tradicionalistas, baseadas em estatuto, ou apenas junções de estudantes que precisam dividir as contas. Com isso, gera-se uma movimentação também para a área cultural que ainda não citei nesse texto: as festas republicanas e o carnaval.
Sempre controversas, as práticas e festas de repúblicas estudantis movimentam o entretenimento na cidade, além de terem seu impacto econômico. Precedidas por enorme fama, as comemorações republicanas atraem pessoas de todo o país e não muitos são aqueles jovens que passam pela cidade sem ir pelo menos em um ou outro evento.
Carnaval
A atuação das repúblicas, juntamente com o incentivo público, fez do Carnaval de Ouro Preto um dos mais famosos do país, com este chegando a fazer frente aos mais tradicionais festejos tupiniquins. A cultura dos blocos, sejam os fechados ou de rua, e festas republicanas que duram dia e noite no período, atraem milhares de turistas de diversas partes do Brasil e do mundo para “subir e descer ladeira”, como se fala na região.
O Carnaval Ouro Pretano também é parte importante da cultura e economia local e costuma gozar de bastante apelo midiático, tendo espaço quase que garantido na programação dos grupos de mídia mineiros, trazendo também artistas renomados para se apresentarem na cidade durante o período. Além do carnaval, mais duas festas tradicionais na cidade, com bastante apelo republicano, são o 12 de outubro, aniversário da Escola de Minas, e o 21 de abril, Tiradentes e aniversário das Repúblicas do Campus.
Distritos de Ouro Preto
Ouro Preto também possui muita riqueza em seus distritos e subdistritos, que apesar de afastados da região central, fazem parte da cidade. São eles: Amarantina , Antônio Pereira, Cachoeira do Campo, Engenheiro Correia, Glaura, Lavras Novas, Miguel Burnier, Rodrigo Silva, Santa Rita de Ouro Preto, Santo Antônio do Leite, Santo Antônio do Salto e São Bartolomeu.
Um fato bastante interessante é que cada um dos 12 distritos, excluindo a sede, tem características únicas e marcantes, como é o caso de Lavras Novas, destino turístico muito procurado, Santa Rita de Ouro Preto e sua produção de Pedra Sabão, Antônio Pereira e Cachoeira do Campo, que juntas possuem mais de 12 mil pessoas, São Bartolomeu, que completará 300 anos em 2024, e sua Festa da Goiaba e patrimônio histórico rico, Glaura, um dos mais antigos distritos de Vila Rica, e que possui a Igreja Matriz de Santo Antônio, com imensurável valor histórico, dentre outras riquezas.
Particularmente, este que escreve acha muito difícil poder se dizer totalmente satisfeito com uma produção que conta sobre determinado assunto. Dizer que contou tudo é ainda mais improvável. Mas quando o assunto é uma cidade tão cheia de histórias e nuances como é Ouro Preto, é praticamente impossível afirmar que fez tão somente um apanhado geral. Afinal, uma cidade descoberta nos primórdios do país, que foi capital, maior cidade da América Latina, sede de uma revolução, Patrimônio da Humanidade, sede de uma das principais universidades do país e pólo cultural e turístico, com atrações materiais e naturais não é nada fácil.
Espero ter ajudado neste texto, mas talvez a única forma de realmente conhecer Ouro preto é com os próprios olhos, pés e demais sentidos. Acredite, poucas coisas serão tão prazerosas como subir e descer suas intermináveis ladeiras.