Entre as vozes mais emblemáticas do rock brasileiro contemporâneo, Pitty se destaca não apenas pela sua presença cênica e potência vocal, mas também pela riqueza e profundidade de suas letras. Ao longo de sua trajetória artística, a cantora consolidou-se como uma das letristas mais inteligentes dos últimos anos, abordando temas que variam do existencialismo à crítica social.
Desde o início de sua carreira, Priscilla Novaes Leone, vulgo Pitty, demonstrou uma habilidade singular de traduzir sentimentos complexos em versos acessíveis, sem nunca abrir mão da força de suas mensagens.
Canções como “Admirável Chip Novo” exemplificam essa característica ao expor uma crítica incisiva ao controle e à mecanização da sociedade, um tema que se revela extremamente pertinente em nossos dias. Inspirada no livro “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, a música é um manifesto distópico, antecipando discussões sobre alienação e conformidade — questões centrais à experiência humana contemporânea.
O que distingue Pitty como letrista inteligente é sua capacidade de abordar temas íntimos sem descurar a crítica social. Em “Na Sua Estante”, por exemplo, a artista aborda a vulnerabilidade e a força necessárias para superar desilusões pessoais, utilizando uma delicadeza que desafia as convenções tradicionais do rock. Pitty é habilidosa em mesclar uma linguagem simbólica a uma expressão direta, fazendo com que quem ouve as músicas se veja refletido tanto em suas fragilidades quanto em suas forças.
Além disso, a baiana explora questões de gênero e empoderamento feminino com uma sensibilidade que evita o panfletarismo. “Desconstruindo Amélia” é um exemplo de como Pitty utiliza sua música para questionar estereótipos e desafiar narrativas limitantes sobre o papel da mulher na sociedade. A música vai literalmente desconstruindo a figura feminina que é ensinada a servir e se doar, esquecendo-se de si mesma. Percebe como suas letras são carregadas de múltiplas camadas de significados, onde o pessoal e o político se entrelaçam de forma orgânica e visceral?
Ao longo dos anos, Pitty tem evoluído como letrista, mantendo-se distante de fórmulas fáceis. Em “SETEVIDAS”, por exemplo, a cantora investiga o renascimento pessoal e as várias formas de recomeçar, um tema que dialoga com as constantes transformações da vida moderna. Suas composições refletem um amadurecimento artístico que continua a surpreender até mesmo aqueles que a acompanham desde seu início.
Pitty se destaca por empregar suas letras como uma ferramenta de resistência e questionamento. Ela instiga, provoca reflexões e desafia qualquer situação que envolva manter, questionar, defender ou reconsiderar o estado atual de algo, frequentemente aceito sem questionamentos, e é exatamente essa postura que a consagra como uma das letristas mais inteligentes de nossa era. Suas músicas são uma reflexão sobre o que significa ser humano em meio ao caos, sempre com uma poesia crua e sem concessões.
Assista ao videoclipe oficial do single “Anacrônico”: